Vini Jr, Eu te compreendo, Você me representa e eu te agradeço – Porque a indignação de Caiado me deixou indignado.

 


Nos últimos dias tomaram conta dos noticiários o acontecido com o Jogador Vinícius Júnior. Ele sofreu racismo mais uma vez. Não foi a primeira vez, já há mais de um ano vinha sofrendo racismo de forma repetidas, pela torcida, pelos árbitros, e, até mesmo pelos dirigentes com suas falas metódicas e politizadas. Desta vez e de propósito o jogado foi ao limite. Reagiu com toda a fúria possível. Enfrentou os racistas. Foi expulso de campo e levou ainda um mata Leão. O mundo reagiu.

As reações de solidariedade vieram de todas as partes do mundo, e que bom, que agora tínhamos um presidente que defende todos os brasileiros. Lula da Silva se pronunciou e o que era um problema do futebol da Espanha transformado por Vini em um problema do futebol mundial, por sua grandeza como jogador, transformou-se em problema de estado pela grandeza do presidente brasileiro. O combate ao racismo ganhou repercussão mundial. Em Goiás, até mesmo o Governador Ronaldo Caiado, um político da extrema direita, ruralista, representante da elite mais racista do estado saiu em solidariedade a Vini Jr.

Por esta razão que escrevo este texto. Vini, eu te compreendo. Estou com 48 anos e poderia escrever um livro de mais de 200 páginas se fosse contar todos os episódios de racismo que já sofri. Atualmente, o mais comum é ser confundido com motorista de uber quando estou dirigindo meu carro, mas é normal ser confundido com guarda de shopping, vendedor em lojas, garçons em restaurantes, e até mesmo de flanelinha quando se está estacionando o carro em vias públicas. Eu penso que nosso maior erro é naturalizar o racismo. Há vinte anos atrás quando fui selecionado para o mestrado na UFG, sofri racismo explícito em sala de aula do Mestrado. Depois, no Doutorado na PUC – Goiás, sofri racismo tão explícito que dois colegas saíram em minha defesa perante a professora.

Alguns episódios porém ficam marcados em nossa mente. Uma vez, quando estava no doutorado fui fazer uma palestra sobre o REUNI. A outra palestrante era a professora Raquel Teixeira, na época secretária de Educação. Chegando lá, eu estava sentado esperando que arrumasse o som quando a professora Raquel, que seria minha colega de debate chegou. Olhou para mim e perguntou: É você que cuida da limpeza aqui? Precisa limpar direito estas cadeiras e organizar tudo isso. Eu respondi de forma calma – Na verdade vou fazer a palestra junto com a senhora, mas podemos limpar juntos se a Senhora não se importar.

Outra vez quando fui selecionado para o Doutorado, fui com um casal de amigos comemorar o momento na Churrascaria Candeeiro. Quando lá cheguei a mesa que tínhamos reservado estava ocupada. Então o garçom me ofereceu outra mesa,e quando reclamei, ele disse: Que isso negão, há pouco tempo atrás vocês eram escravos agora querem as melhores mesas. Pedi que chamasse o gerente e o mesmo reforçou o racismo do subordinado,, só quando as mulheres começaram a ficarem bravas e viram que poderia ali ter um escândalo é que arrumaram um boa mesa e o gerente recuou e pediu desculpas. Nunca mais fui ao Candeeiro. E sempre conto esta história como exemplo de racismo.

Uma vez uma aluna retirou de minha aula na Faculdade de Goiatuba. Quando fui procurar a razão pela qual ela havia pedido pra trocar de turma ela me disse com a maior naturalidade que se recusava a ser aluna de um Negro que tinha nascido em um Quilombo. Pior foi uma abordagem sofrida por policiais. Estava tranquilamente meditando dentro do bosque dos buritis quando subitamente ouvi gritos – perdeu, perdeu. Olhei, e dois policiais com armas apontadas para minha cabeça. Estava em meditação tão profunda que demorei pra entender o que estava acontecendo e então eles pensaram que eu estava sob uso de drogas. Mantiveram a arma apontada para minha cabeça mesmo eu dizendo que conhecia meus direitos e que aquilo era abuso. Depois justificaram dizendo que infelizmente eu era negro e fazia parte de uma população considerada previamente como suspeita.

Poderia aqui contar muitas outras histórias. São repetitivas. Mas Vini Jr parece estar nos ensinando que não vale a pena muito pacifismo quando o assunto é racismo. Será que devemos substituir Luther King e Gandy por Malcom X? A indignação do Governador Caiado me deixou indignado por que é hipocrisia. A polícia goiana agride todos os dias inocentes nas periferias, e a maioria são negros. Em Goiás, o Estado é racista, o Judiciário é racista, a polícia é racista. Os partidos políticos são racistas. Uma pesquisa rápida pode mostrar que a maioria dos partidos não cumpriram a lei sobre as cotas para candidaturas de negros, e quando houve negros candidatos não receberam o financiamento devido e merecido. Aqui tudo é racista. É por esta razão que por vezes eu amo comer no Valmor, ir ao Goiana Shopping, e Flamboyant, e nos melhores restaurantes e cafés; por vezes é só pra perturbar a branquidade racista mesmo.

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