Sobre o Marco Temporal e as razões de um Brasil profundo – Os movimentos da Direita na busca da continuidade da concentração desenfreada da riqueza.
A votação do marco temporal não é uma derrota do Lula, não é uma derrota do Governo Lula, e não é uma derrota do PT e seus partidos aliados. A votação do Marco temporal foi uma derrota do povo brasileiro. Entretanto esta derrota nos ajuda a fazer uma leitura mais clara do quadro político brasileiro e das estratégias possíveis de ação para aqueles que lutam pelo bem coletivo e pelo crescimento do país com igualdade, democracia e justiça social. O MDB, o PSD, e o União Brasil, partidos que possuem três ministérios cada um na esplanada votaram contra a orientação do Governo, praticamente em massa. E penso que se refletirmos sobre as movimentações destes partidos no cenário político e suas pautas, entenderemos, com facilidade o que anda acontecendo.
Comecemos pelo União Brasil. O principal líder do União Brasil no momento é Ronaldo Caiado. Tem o apoio dos ruralistas e pode ocupar facilmente o lugar de apoio de Jair Bolsonaro no seguimento do Agro e dos empresários ultraconservadores. Este lugar já foi de Ronaldo Caiado onde reinou de 1989 até o aparecimento da ampliação da liderança de Jair Messias Bolsonaro. Ronaldo Caiado é declaradamente pré-candidato a presidente para 2026. E quem conhece a história dos caiados sabe que quando apresenta um projeto de forma clara, é por que vai lutar por ele com unhas e dentes. Não atoa, a leitura das obras que contam as histórias das sagas da família caiado, se espremer sai sangue. Para além da obstinação do caráter na luta pelo poder, tão presente na obra sobre a Saga dos Caiados, está o propósito da busca pelo poder – o modelo liberal de visão de mundo e o conceito de liberdade a partir da visão de força. É um discuso de liberdade que até conquista os oprimidos que sonha serem opressores mas que não consta na cartilha a distribuição de riquezas, justiça social, democracia, estado de direito,etc. Caiado governa para os seus. E é por esta razão que o Governo Lula deveria repensar a participação do União Brasil no Governo. O união Brasil por sua consistência e seus líderes jamais votará com o Governo nas pautas que representam o coração da propostas de Governo
O MDB é outro partido que também possui três ministérios na base do Governo. O MDB sempre foi um partido dúbio, de lideranças regionais. E por esta razão nunca conseguiu ser de fato um partido nacional. Chegou perto com Michel Temer, e, mesmo assim, não fez nada para evitar o impedimento da presidente Dilma. No momento, é preciso admitir o papel importante da Simone Tebet, não apenas na vitória do povo brasileiro nas eleições e em defesa da democracia, bem como a qualidade da mesma enquanto quadro dentro do governo na atualidade. Entretanto isso não tem significado votos para as propostas mais importantes, inclusive defendidas pela própria Simone. Em Goiás, por exemplo, o MDB está se transformando em um puxadinho da direita, mas especificamente um puxadinho do caiadismo. No Centro-Oeste o MDB está cheio de gente de extrema direita,e na esfera nacional, os movimentos em direção a composição de uma federação com PSDB e Cidadania, que tem como pré-candidato a presidente para 2026, Eduardo Leite, presidente do PSDB e Governador do Rio Grande do Sul deveria acender as luzes amarelas dos pensadores do Governo.
Por último, o PSD, É preciso começar dizendo que o PSD é um partido tão liberal quanto o União Brasil e o PL. O que o diferencia é a valorização que seus principais quadros e lideranças, hoje, capitaneadas por Gilberto Kassab e Vilmar Rocha, respectivamente presidente e secretário geral do Diretório Nacional, dão ao aspecto do respeito a democracia e ao estado democrático de Direito. Nos demais quesitos – Propriedade privada, conceito de liberdade, formas de governo, jeito de governar – o partido não se diferencia dos demais partidos liberais. Então, não se pode esperar muito do PSD. Em São Paulo, Gilberto Kassab é o principal braço político de Tarcísio de Freitas, o Governador eleito pelo Republicanos ( partido liberal, conservador e base religiosa na Igreja Universal), e cujos movimentos políticos tem sido tentar transformar o Governador em um candidato possível para 2026. Em Goiás, Vilmar Rocha sem mandato, tem perdido o protagonismo político e dado lugar no partido a Wanderlam Cardoso , um político de ocasião que já foi dirigente de uma dúzia de siglas, e cujo objetivo claro e perceptível é apenas o exercício do poder. No entanto, a história política de Vanderlam mostra ele, essencialmente muito mais próximo das pautas da direita do que as pautas de Democracia e Justiça Social.
Pesquisando um pouco mais se observa que os mesmos que votaram pelo marco temporal são exatamente os mesmos que mexeram na estrutura de governo proposta para os ministérios, sobretudo do meio ambiente e povos indígenas. Isso mostra que os interesses são claros, e são os interesses das pautas de direita, sobretudo do agronegócio, dos ruralistas e das pautas de costumes. O que se vê é um bloco claramente unido em defesa de um processo de concentração de riqueza e obtenção do poder a qualquer custo, que não se furta a abandonar os conceitos de democracia e justiça social, se isso atender seus interesses mais específicos. Estas lideranças não apoiaram a candidatura de Lula por acreditar no Governo, e sim por que é era esdrúxulo demais continuar apoiando a continuidade de Bolsonaro no poder. Por esta razão, a votação do marco temporal mostra que o Governo Lula e os defensores da Democracia, da Justiça social, do humanismo, do estado de direito precisam rever as estratégias para além dos partidos políticos, com um plano claro de mobilização das massass visando não apenas as eleições de 2024, mas a exercer uma pressão constante sobre aqueles cujos interesses imediatos estão acima das ideologias.
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