Décimo quarto dia de quarentena. – Brincando com a morte.




Goiânia, 29 de março de 2020

O que significa viver ? Como podemos sobreviver em momentos de dificuldade? Os momentos de dificuldades e pandemias ocorreram inúmeras vezes na história da humanidade. Desde o dilúvio , a destruição do mundo por água; , a destruição da Torre de Babel, quando se confunde a população do planeta com o surgimento de muitas línguas, a Destruição de Sodoma e Gomorra com fogo e enxofre, a saída do povo de Israel do Egito, o surgimento e decadência de tantos impérios mundiais, a vida sempre prevaleceu no planeta. Quando o momento de destruição entra em decadência a esperança ressurge, a vida se renova, e, a história continua.

O dia amanheceu em Goiânia, bem diferente dos domingos normais. Acordei tarde, e de cortinas nas janelas, não vi o sol nascer. As primeiras notícias que vi foi um presidente andando pelas ruas da Ceilândia, no Distrito Federal, buscando incentivar as pessoas a saírem as ruas, a retomarem suas vidas e ignorarem a quarentena horizontal. No momento, diante da subida dos preços dos mantimentos, e sabendo que a maioria da população passará por dificuldades, há uma tentação em pensar que o presidente está sendo sensato, mas, a ciência diz que não está. É contra a morte que estamos lutando. O vírus não tem ideologia, o vírus não tem partido, o vírus não possui nacionalidade. Itália, Espanha, e tantos países já convivem com seus milhares de mortos; já são mais de dez países no mundo com mais de dez mil mortos.

Em Goiás, onde o  Governador Ronaldo Caiado procura manter a ordem e a quarentena a Justiça estadual por pedido do Ministério Público Estadual autorizou o uso da força para conter carreatas e passeatas em defesa do fim da quarentena. Há um grande número de seguidores de Bolsonaro e de empresários gananciosos defendendo a volta ao trabalho, e isso tem causado confusão política na base do Governador. Em Grupos de redes sociais fechados ( Zap, telegram, et) e até mesmo nas redes sociais como Instagram e facebook, muitas vezes, o Governador tem sido tratado como traidor e aliado da oposição. O governador sustenta que, na verdade, ele está agindo com médico e para salvar as vidas dos 7.200.000 goianos.

O vírus pelo Mundo.

A notícia que mais me impactou  foi ver a Bélgica se tornando mais um país, e sendo o décimo país com mais de dez mil infectados. Atingiu´10.836 casos. A Holanda, também atingiu a marca ao tornar-se o décimo primeiro país do grupo com 10.926 casos da doença, e registrou um número de 772 mortos. A Itália, possui o maior número de casos na Europa ( 92.472), Espanha ( 78.797), Alemanha ( 58.247), França ( 38.105), Reino Unido (19.758), e Suíca ( 14.829).

Diferente do que  muitos alardeiam, a doença não ataca de forma grave apenas os velhos. Dados tem mostrado que mais de 50% dos casos graves são de pessoas com menos de 60 anos. Neste sábado 28, de março o número de mortes no Brasil chegou a 114, com um número de 3094 casos. O nível de mortalidade, com dados do Ministério da saúde, chegou a 2.9% dos infectados. Se consideramos que o Sistema de Saúde ainda não entrou em colapso, é um número alto de letalidade, e um crescimento de mais de 14% de um dia para o outro deve nos levar a concluir que a situação no Brasil, pode se tornar mais grave do que as dos dez país acima citados.

É uma situação complexa. A quarentena horizontal considerada a mais adequada divide opiniões pelo mundo. Os preços sobem, e não é estranho ver o primeiro ministro de um país como a ìndia, um pais extremamente populoso, e com uma população pobre, pedir desculpas pela quarentena forçada, mas ao mesmo tempo reconhecer que é a única forma de proteger o máximo de vidas. Em Singapura,  há notícias de que a desobediência a quarentena pode levar a seis meses de prisão. O mundo se debate por todos lados, e centenas de milhares de famílias choram seus mortos nos quatro cantos do nosso planeta que na verdade é redondo, e não plano como querem os terraplanistas que não acreditam que a doença é algo que deve ser levado com seriedade.

Creio que a grande dúvida enfrentada pelos brasileiros querem colaborar com a situação é decidir que rumo seguir e a quem obedecer. Os governantes do país continuam divididos na forma como se enfrentam o problema. De um lado, uma maioria de prefeitos e governadores optam por um isolamento social horizontal, enquanto que de outro, o Governo Federal, mesmo com divisão interna, mas liderado pelo presidente Jair Bolsonaro continua subestimando a situação, ou para ser imparcial, apostando que não passa de uma “gripezinha”. O problema, é que  Governadores e prefeitos podem não ter a bala na agulha necessária para proteger empregos e vidas ao mesmo tempo, sem o apoio explicito e um plano realista coordenado pelo Governo Federal. Uma vez mais a classe política que deveria apontar a solução para o povo se torna parte agravante do problema.

E o dia termina como começou.

E, de forma incrível o dia termina como começou. O presidente Bolsonaro depois de quebrar as regras do isolamento social, fala em acabar de vez com o isolamento por decreto. Diante da complexidade do estrutura da democracia federativa que é o Brasil, onde Estados e Municípios possuem autonomia concedidas, sobretudo pela Constituição Federal de 1988, é pouco provável que consiga algum sucesso. Entretanto, o registro do aumento de carreatas pelo pais pedindo o fim da quarentena de empresários e trabalhadores seguidores e alinhados com o presidente, pode levar o país ao caos, como bem discutiu em sua coluna de hoje, Luiz Carlos Azedo do Jornal Correio Brasiliense de Brasília, Distrito Federal. Uma vez instalado o caos é possível que a tentação autoritária tome conta do país como solução milagrosa como já ocorreu em tantos outros momentos da história brasileira.  O momento atual, entretanto, destoa do passado pelas características da Globalização, e por que o discurso do Caos de Bolsonaro vai no contra mão do resto do mundo.

As manchetes do dia dão conta que São Paulo, maior estado da Federação, e chamado de Locomotiva econômica do país,, termina o dia tendo seis vezes mais casos do que a china calculando o número  de dias de contaminação. No Brasil inteiro, o número de casos subiram de 114 para 156, com mortes em 12 estados onde já se considera possuir contaminação comunitária.  Enquanto isso e apostando no Caos, Bolsonaro faz campanha aberta contra o isolamento social e instiga as pessoas a irem para as ruas.

No mundo, NY teve dia mais movimentado de ambulâncias do que  11 de setembro, noticia sites de americanos em Inglês, chamando a atenção para o rumo que as coisas estão tomando. O Presidente Americano já  mudou o discurso e fala agora em proteger vidas. A Itália com 756 mortos, e 5.217 novos casos em um dia, vê as ruas desertas e seus governantes a pedir desculpas ao povo que ainda vive. O Japão, do qual se usou imagens para justificar o isolamento vertical, vê suas autoridades assustadas e com medo de um surto generalizado de contaminação e mortes. Fica claro que o vírus não respeita nada em seu caminho.

Enquanto isso em Goiás, onde o Governador continua sua luta incansável, nenhum caso a mais de contaminação nas ultimas 24 horas. Permanece 33 casos de contaminação. Isso pode significar que o único recurso real é ouvir a ciência, praticar o isolamento horizontal e agir obedecendo as ordens da medicina racional.  Apesar de estarmos indo bem, surge por aqui alguns casos curiosos como o do Prefeito de Divinópolis de Goiás, que abriu conta no próprio nome para receber donativos para comprar cestas básicas. Apenas a história poderá julgar todos aqueles que utilizam este momento como palanque político e eleitoral.

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