Os mortos não pagam contas
Nelson
Soares dos Santos
Os mortos não pagam contas. Os mortos não precisam de emprego. No oriente
e extremo Oriente é comum o aprendizado de que todos devemos sempre buscar o
caminho do meio . A busca do equilíbrio,
segundo os Orientais, é fundamental para preservar a raça humana e facilitar o
processo de evolução. Em tempos de pandemia de Coronavírus, talvez esta seja
uma lição que deva ser buscada por todos nós. Não se entregar ao desespero e ao
medo, mas, por outro lado tomar todos os cuidados necessários para se preservar
a vida. Partindo deste ponto de vista é
que nos cabe analisar as narrativas sobre o Corona Vírus no Brasil e seus
autores.
Na guerra das narrativas, basicamente duas tem se destacado. No Brasil,
capitaneado pelo Presidente da República Jair Messias Bolsonaro, a ideia de que
os mortos podem ser uma estatística menos prejudicial que a recessão econômica
ganhou força entre seus aliados mais fiéis, e aumentou a popularidade do mesmo
nas redes sociais, onde tenta manter o discurso de que ao tentar proteger a
economia do país, está na verdade, tentando proteger os empregos, e, portanto,
a vida. O que o Presidente e seus aliados não levam em conta, é que mortos não
pagam contas, não precisam de empregos; e, mais ainda, que dado a letalidade do
vírus, sua capacidade de disseminação e a fragilidade do Sistema de Saúde
Brasileiro, no final das contas, mesmos aqueles que estão se achando fora do
alcance da letalidade podem se surpreender. Dados mostram que poucos podem
sobreviver a uma parada respiratória se não houver a disposição um respirador
ou uma UTI, e a verdade, é que alcançando um número de afetados que necessite
de tais cuidados o número de mortes no
Brasil, pode chegar a uma quantidade avassaladora e não prospectada.
De outro lado, com uma narrativa na qual colocam a defesa da vida em
primeiro plano, governadores de 26 estados se uniram em busca de unificar
medidas que foram tomadas preliminarmente por cada um deles, tentando ter como
fundamento a máxima de que toda a vida é importante, sendo assim, o chamado
isolamento vertical proposto pelo presidente não se torna suficiente para
proteger as vidas dos idosos, e pessoas que se encontra nos chamados grupos de
risco. Destacam-se , protagonismo desse grupo, os governadores do Nordeste, o
Governador do Rio de Janeiro e o Governador de São Paulo, que segundo o
Presidente conspira politicamente usando a pandemia como palanque eleitoral
para as eleições de 2022.
Entretanto, o discurso do presidente de acusar os governadores de usar o
momento para fazer política não se sustenta, na medida em que o governador de
Goiás, aliado de primeira hora do presidente, rompe politicamente com o
Planalto, alegando que sua condição de Médico não o permite embarcar em um
discurso no qual se coloca vidas humanas em segundo plano. Para o Governador de
Goiás, Ronaldo Caiado, é preciso preservar a economia porém sem deixar de dar o
valor devido a cada uma das vidas humanas que jurou proteger como médico e
Governador. No meio disso tudo, como em todas as guerras, há os indecisos,
pusilâmes que na esperança de atender interesses diversos, mudam de opinião,
como o fez o Ministro Mandetta, inicialmente elogiado por todos, e que
flexibilizou o próprio discurso a pedido do presidente.
Quando nos pomos a refletir sobre todas as narrativas postas, o caminho do
meio nos faz concluir que é preciso aos governadores uma certa lucidez, que os
faça perceber que para além de exigir o isolamento é necessário um plano de
contingência que garanta a subsistência dos mais fracos, a sobrevivência das
pequenas e médias empresas, e que garanta atendimento médico às vítimas que contraírem
o Corona Vírus, e necessitarem de tratamento hospitalar. Afinal, tantos os
governadores quanto o presidente da República precisam estar consciente da
responsabilidade que o momento exige, e que afinal, mortos não pagam impostos,
e o único caminho para reerguer nossa tão combalida economia é garantir a sobrevivência
dos pequenos e médios empresários.
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