A guerra na política e a Política na Guerra – Sobre o que o Governo Lula não pode esquecer as razões pelas quais foi eleito.

 


O pai da estratégia militar, Carl Von Clausewitz disse em sua obra “Da guerra”, que a guerra é a continuação da política por outros meios. Penso que é uma leitura que pode estar faltando, se não a leitura pelo menos o uso como instrumento de reflexão ao Governo Lula, sua base e aos políticos brasileiros. Ao entender a guerra como sendo a continuação da política, uma das ideias do autor é de que é necessário para se ter uma vitória nas batalhas e até mesmo alcançar o fim de uma guerra é necessário garantir o controle civil sobre aqueles que fazem a guerra. Quando se lança os olhos sobre as ações e atitudes da base do governo sobre as ações de estado, é difícil perceber quem são os civis e quem se dispõe a serem soldados dispostos a guerra na quadra atual.

Escrevo este texto a propósito dos acontecimentos envolvendo as ações do governo no processo de aprovação de projetos de leis na câmara, e no qual um deles, foi modificado a estrutura do Governo proposta pelo presidente Lula. Logo, uma saraivada de críticas sobre a possibilidade de esvaziamento dos ministérios dos povos indígenas e do meio ambiente. No dia seguinte, o presidente publica uma fala enigmática no twitter que parece que poucos prestaram atenção no significado. Lula diz: “Tem dias que a gente acorda com notícias parecendo que o mundo acabou. Eu fui ler as notícias hoje, na verdade, tudo parecia normal. Uma comissão do congresso querendo mexer numa estrutura de governo que é difícil de mexer. Agora que começou o jogo. O que a gente não pode é se assustar com a política. Quando a sociedade se assusta com a política e começa a culpar a classe política, o resultado é infinitamente pior. É na política que se tem as soluções dos grandes e pequenos problemas do país.”.

Eu entendi que Lula quis mandar o seguinte recado: Gente, a coisa aqui tá preta. O centrão acha que manda no país, mas fiquem tranquilos, eu fiquei 582 dias preso só pensando como eu ia voltar para presidência e fazer melhor do que fiz, então se eles pensam que vão me enrolar mexendo nos ministérios eles estão muito enganados. Em todos os ministérios quem manda no final, sou eu, então, não importa a estrutura do governo eu vou cumprir o que prometi. Marina, por sua vez, parece ter entendido o recado de Lula. Fazer política em ambiente inóspito não deve ser fácil. No Brasil de hoje, tem a direita, a extrema direita, os fascistas, os malandros da política, os que usam a política para se apropriarem da coisa pública. Quando tira isso tudo sobra muito pouco, daí por que fazer a política, no momento, é quase uma guerra, aliás, com desvantagem pois os que defendem os interesses coletivos é uma minoria. Lula sabe que com minoria tem que fazer política e fazer política é negociar o tempo inteiro.

Dito isso, precisamos lembrar para que se tenha clareza e não se esqueça por que votamos em Lula. Enumerando: 1. Preservar a democracia; 2. Resgatar o respeito aos direitos humanos; 3. Combater a pobreza e a fome; 4. Buscar um desenvolvimento sustentável; 5. Pacificar o país. Enquanto Lula tiver clareza das razões de sua eleição então terá mais acertos do que erros. Não se pode pensar que os liberais que votaram em Lula com o objetivo de preservar a democracia vá concordar com tudo que for feito para combater a pobreza, como não se pode esperar dos grandes banqueiros e empresários que votaram para defender a democracia que vão concordar com as pautas do desenvolvimento sustentável. É por estas razões que a política se torna uma arena onde a estratégia, a serenidade e o pensamento racional se torna importante e imprescindível.

Dito isso, pensemos na importância da fala de Lula quando ele diz: o jogo está só começando. E é preciso não se assustar com a política. Se pensamos na ideia de pacificar o país, este objetivo só será alcançado se o desenvolvimento esperado para melhorar a vida de milhões de pessoas for alcançado, e se, mais ainda, a política for parte da nossa vida e não a disposição para guerra. E se a guerra é a política por outros meios, não se pode fazer da política um espaço de guerra, sobretudo nos aspecto comunicativo, onde deve imperar um controle civil no processo pois se deve compreender que é um processo cheio de mudanças e nuances, que se no momento não deve parecer claro, deve ser guiado aos objetivos que foi indicado nas urnas.



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