Rogério Cruz e o Racismo dos Goianos – Um negro em um partido de direita continua sendo apenas um negro.

 



O Racismo existe dentro de todos os partidos políticos brasileiros. Não existe um partido que não tenha ao menos um dirigente racista. Isso inclui os partidos de esquerda, centro e direita. O racismo está impregnado na sociedade brasileira. A ministra dos povos indígenas Sônia Guajajara deu um contribuição imensa a luta antirracista ao ter a coragem de falar em rede nacional que o congresso nacional é racista, racista contra negros e indígenas e machista. A grande maioria dos nossos parlamentares são racistas. O racismo se espalha da esfera federal até as esferas municipais e estaduais. E quanto mais conservador é um estado, mais racista seus dirigentes. Em Goiás, partido governado por um governador da extrema direita não é diferente. Goiás é um estado racista e prova disso é que nas última eleições não tenho conhecimento de um partido sequer que tenha cumprido a cota de candidatura de negros. O Estado não tem sequer uma Secretaria Estadual de Direitos Humanos ou de Igualdade Racial. Rogério Cruz, primeiro prefeito negro da cidade de Goiânia, embora seja de direita e talvez não se veja como negro tem sentido na pele o preço de ser negro em um estado racista e conservador.

O primeiro ponto a se considerar é que talvez Rogério Cruz não se veja como negro. É comum negros que tem ascendido em ambiente conservadores acreditarem que o fato deles serem negros não impediram ou atrapalharam a ascensão deles, e que o que conseguiram foi por mérito e que portanto, o racismo não existe. A impressão que tenho é que Rogério Cruz é um destes negros. Religioso de uma religião conservadora que trata os negros como tributários da misericórdia divina, e sendo pastor ascendeu a política representando os interesses de sua religião, com a morte do titular viu-se prefeito de Goiânia. Podem ser muitas as razões políticas que levaram o vereador representante de uma igreja a se tornar candidato a vice de um político tradicional, mas certamente, não foi por ele ser negro. E assim que o titular morreu por pouco não se cria um movimento para que ele não assumisse a prefeitura, e logo, os membro dos partidos do titular, o MDB, abandonou o barco da administração. Podem ser muitas as razões que levaram os líderes do MDB a abandonar o novo prefeito, mas certamente, creio que uma delas é por ele ser negro.

Tivesse Rogério Cruz compreendido o significado dele ser negro e o primeiro negro a administrar Goiânia, e ele saberia que jamais seria aceito ou apoiado na íntegra pelos líderes da direita racista do estado, incluindo nela o Governador Caiado. E se tivesse entendido isso, teria dado um rumo diferente a sua administração investindo em quadros novos, técnicos, competentes e vindos do povo. Membro de um partido de direita – O Republicanos, se o prefeito tivesse compreendido o caráter racista das políticas de direita presente, inclusive nos estatutos partidários, que nega a escravidão moderna, não defende os trabalhadores em nome de uma pretensa defesa da liberdade, e teria compreendido que o único caminho possível de sustentação política seria um mergulho no meio do povo, pois se famílias tradicionais e articuladas possuem milhares, o povo sem nome, constitui ainda os milhões.

Em pesquisa recente com resumo publicado no Jornal Opção, o diretor do Instituto fala abertamente que uma das razões para a gestão de Rogério Cruz não ter aprovação é o fato dele ser negro. E esta imagem é construída pela imprensa e pelos políticos de direita, muitas vezes, claro, nos bastidores. Quem lê as publicações dos principais jornais e blogs em Goiás, vê claramente como o racismo aparece. Em uma mesma publicação é possível ver o tratamento diferenciado dado ao prefeito e a outras lideranças que não são negras. Já escrevi neste blog sobre os prefeitinhos que ganham vozes na imprensa e no meio político, bem como sobre o golpe do destino de além do prefeito ser negro ter um presidente da Câmara que conseguiu se articular e manter o poder na Câmara, também sendo negro. Talvez se o presidente da Câmara fosse branco o mandato de Rogério Cruz já teria sido cassado.


Veja um trecho do artigo do Jornal Opção: “ Para 2024, podemos ver tendências perniciosas na campanha que já foram percebidas em pesquisas com grupos focais e em pesquisas etnográficas. “Percebemos claramente que parte da desaprovação ao prefeito Rogério Cruz se deve ao racismo”, diz Jorge Lima. Rogério Cruz é o primeiro prefeito negro de Goiânia. “Ficamos horrorizados porque as candidaturas fundamentadas na agressão, na humilhação e desqualificação do oponente por sua identidade abrem caminho para que o racismo entre na política como visão de mundo válida.”

Não tive ainda, acesso a pesquisa. Seria interessante se pudéssemos analisar os números e avaliar a medida do que ser negro em Goiânia prejudica a imagem de um político. O racismo está presente nos partidos, no estado, na estrutura do Governo, no Governador, e na maioria dos parlamentares goianos. Seria muito inteligente mesurar quanto das ações de cada um destes líderes é motivada pelo racismo. Uma coisa é certa: Se Rogério Cruz ainda não descobriu, cedo ou tarde ele descobrirá que um negro em um partido de Direita é só um negro. Em um partido de centro e esquerda os racistas e malandros ao menos tem vergonha de se expressar de forma deslavada.


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