TALVEZ, QUEM SABE!

Texto de Jales Ramalho.

Este período de quarentena seguramente fez sobrevir questões existenciais por que passa a humanidade, o que me alentou a imergir em algumas reflexões acerca de alguns arquétipos de vida que os agrupamentos sociais em suas diversas matizes tomaram como infalível, frutuoso, saudável e sustentável até pouco tempo, cujo sistema harmonizava-se estruturalmente atendendo os interesses das minorias por décadas, quando, de repente, deparamo-nos com suas vísceras espalhadas sobra abóboda prepóstera da berlinda, com a chegada inesperada desta moléstia pandêmica clandestina e chingling.

O vislumbre que eu tenho de hoje é que, na jornada épica da humanidade, o ser humano ateve-se e reverberou o mal em todas as suas formas detestáveis e impronunciáveis, para barganhar e lograr proveitos mesquinhos em detrimento do lado frágil da relação dual entre os pares, que se tornou uma constante arraigada à sua singularidade humana, cujo comportamento de exasperação e exteriorização maléfico tem atravessado as eras.

Talvez, esse traiçoeiro e pernicioso Coronavirus-Covid-19, que traz em si a propriedade nociva de ceifar a vida de milhares de pessoas, o que tem feito com relativo sucesso até agora aqui e pelo mundo, cujo mal pandêmico encontra-se, ainda, em acessão rumo à curvatura da vara, o que, com esperança inabalável, seguramente chegará o dia em que um “cara” daqueles com expertise na seara da medicina legal destrinche algo poderoso, atrativo e recheado com o sabor da fúria divina e de suas incontáveis vítimas sobreviventes, e o faça desistir de seu intento nefasto e apear de sua escalada daninha para uma boa conversa, no estilo “pau-de-arara”! Quem sabe! Sem dúvida, ansiamos por este desfecho no reduzido interstício em que o sol endurece o barro, ao mesmo tempo em que amolece a cera. Deus, tomara!


Divagando, ainda, na esteira das inquietações, talvez, talvez mesmo quem sabe essa perturbação da ordem natural das coisas que os agrupamentos sociais tomaram como zona de proveito e
conforte, seja um permissivo do Sempiterno Deus Altíssimo para que, metaforicamente, passemos pelo “fogo” e sejamos depurados dos nossos pecados mais abomináveis, ou pelo menos minimizá-los em nossos templos corpóreos, os quais há muito contrastam com o cheiro suave que cada um de nós deveria exalar e enviar aos céus, em oferta agradável e em agradecimento ao Criador! Pois é, quem sabe depois de tudo isso nós nos deparemos alegremente e em comunhão na zona da serentipidade! Deus, tomara!

Quem sabe, quiçá, depois disso tudo findado, e encontrarmos refúgios em alguma zona segura e acolhedora e a pressão sanguínea e os nervos repousarem novamente, possamos reclamar menos e elogiar mais, odiar menos e amar mais, se cuidar mais e negligenciar menos, abraçar mais e abnegar menos, empatizar mais e repudiar menos, se dadivar mais e cultivar menos egoísmo; que possamos chorar menos e nos alegrar mais; que, em não havendo alternativa outra, sejamos apenas fardo por demais leve e agradável ao irmão, e não estorvo, decepção e enfado; que passemos a ser espirituosos e de bom ânimo para vivermos e deleitarmos com os frutos de nosso próprio trabalho, e não cultivar a desídia e a divagar pela vida em brancas nuvens como quimera de homem e mulher pedintes; que possamos invejar à prática da caridade, do perdão, da compaixão, e não granjear para nossos corações sofreguidões, cobiças, ganância, egoísmos, enfim, que possamos enobrecer os nossos atos praticando o bem sem arrependimento e desapegados de vaidades e de egos inflados, para com àqueles de estatura econômica menos favorecidos, renegados e fragilizados pelo sistema, para que, também, logremos experimentar e ostentar o bem em nós mesmos, de modo a atrair novamente a face de Deus para as nossas vidas. Pois é, não seria ideal!

Quem sabe, após esse vendaval encontrar o seu fim na pedra de tropeço onde o Judas perdeu as botas e o dom mais sublime o qual deixou de ser enxertado na árvores da vida, alcancemos misericórdia e tornemos à pureza de um renovo a ser evoluídos na pluralidade dialéticas das relações interpessoais que permeiam o tecido social já, há muito, corroído pelas traças gestoras do mal e que já não comportam mais remendos! Possivelmente, quem sabe! Deus, tomara!

Ou, ainda, quem sabe, por acaso, depois que esse pânico que atualmente habita e pululam nas mentes humanas, onde os medos encontram lugar fértil para estabelecer e aflorar os seus espinhos venenosos, de onde, ainda, emergem os receios de um aperto de mão ou um abraço de conforto ou saudade de alguém, a insegurança quanto à visita a um amigo ou parente querido, ou mesmo curtir uma “rave”, cujos comportamentos exasperados e anômalos que, em tempos normais, ganham proeminência na frivolidade da vida, isso mesmo, depois que toda essa babel convergir para encontrar o seu fim derradeiro na pedra de esquina que nos ilumina e nos guia e ceder lugar à calmaria e à certeza do sossego, acredito eu que devemos ansiar para que novos caminhos encontrem nossos pés, que nossas cabeças possam ceder lugar à paz, a pensamentos positivos e criativos, a atitudes assertivas, a lampejos de fé, de esperança e de ânimo. Que sejamos, ainda, desprendidos de toda aquela carga negativa e deletéria que imprimimos em nosso agir e pensar, enfim, cujos dons ainda gemem e agonizam de dores de parto desde tempos imemoriais, almejando conquistar lugar de destaque em nossas vidas e sempre os reprimimos e os esquecemos na vitrine da indiferença! Deus, tomara!

Ademais, quem sabe, Deus nos ouça e, depois que os ventos da bonança nos encontrarem e aliviarem as nossas dores e feridas e nos confortarem em seu colo afagando-nos, soprando para longe as nossas preocupações, os nossos desatinos e toda sorte de impurezas aglomeradas em nossos membros templários, teremos um pouco, ainda, de paz e tempo para cultivar e aprimorar nossa consciência, para que possamos lembrar-nos de quem somos, de onde viemos e o que pretendemos ser daqui em diante! Não seria demais!

 Quem sabe nos restariam, porventura, mais um resquício de tempo apenas para deixar o melhor de nós gravado indelevelmente nos corações daqueles que nós conhecemos e que nos rodeiam, dos que amamos ou não, dos que ainda iremos conhecer enquanto peregrinamos por este torrão, tudo de bom grado para que os nossos exemplos de vida, agora digna e plena, sejam princípios basilares a serem perseguidos na jornada sublime da vida dessas e das gerações do porvir, quando o nosso corpo decrépito e cansado retornar ao pó e o nosso sopro de vida dado sem arrependimento, reclamado pelo Deus Altíssimo a retornar à cidade celestial incorruptível! Deus, tomara!

Tudo isso podemos alcançar e experimentar, quem sabe! Talvez seja isso mesmo, mas quem diria que sim ou que não! Decerto, seja ainda um lembrete para que possamos desnudar as nossas mentes, sempre povoadas com pensamentos pesarosos, medíocres, egoístas, nefastos, enfim, grávida de todos os tipos de obscuridades indescritíveis, os quais movem o ser humano a experimentar e dedicar a espalhar o mal em sua jornada épica em direção à ruína!

 Possivelmente, quem sabe, alcançaremos redenção para aplacar a ira de Deus pelos espólios que tomamos de forma inegociável e artificiosa dos incautos e humildes, oriundos de guerras que não lutamos, de batalhas que não travamos, de ideais que não tivemos, às custas de trincheiras que não cavamos, de feridas não tivemos e de vidas que não perdemos! Deus, tomara!

Quem sabe, depois que toda essa situação calamitosa realmente tombar por terra e não mais encontrar refúgio em nosso meio, teremos capacidade volitiva de encontrar o caminho e a verdade real das coisas por meio da luz que há em nós mesmos, e escapar do estado espectral em que nos deparamos, tal como no conto alegórico do “Mito da Caverna”, arroupando-nos com o manto do conhecimento e discernimento, para não mais sermos aprisionados na caverna da ignorância! Talvez! Deus, tomara!

Por fim, quem sabe, porventura, devêssemos igualmente passar por essa adversidade recheada de incertezas e atribulações, para que possamos ser resetados e reiniciados com uma nova roupagem, agregando novos princípios, novos, valores, novas trajetórias, evoluirmos para novas formas de relacionamentos, enfim, cujo upgrade poderia ser tomado como uma forma não muito elegante e sutil de chegarmos ao fim de nós mesmos, pois há um ditado que sussurra para encontrar o seu lugar de

proeminência nas mentes humanas, que diz: “Quando chegamos ao fim de nós mesmos, está o começo de Deus”, certamente para que Sua glória majestosa seja manifestada, vista e apreciada por todos!
Por Jales Brasilio Ramalho Pereira

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