Casar é fácil, difícil é construir um lar II - A vivência cotidiana

Inicialmente, a idéia de escrever um texto sobre o casamento era apenas uma forma de colocar no papel alguns devaneios. Um ano depois, e uma dezenas de comentários por e-mails, resolvi procurar aclarar algumas questões já colocadas no primeiro artigo. Antes, considerei inteiressante, perceber o quanto o que está ali escrito serviu como bussóla  para muitos relacionamentos daqueles que leram. Eu continuo acreditando que o eixo central do que ali está escrito são os elementos necessário a construção do lar.


Um ano depois e divorciado do segundo casamento, continuo achando que casar é fácil, díficil é construir um lar. Caso quisesse casaria novamente em uma semana. Candidatas não faltam. O problema é o que vem no parágrafo seguinte do texto. " Construir um lar leva-se muito tempo. Construir um lar significa plantar as sementes da vida e da virtude." E isso está difícil nos dias atuais.  No parágrafo seguinte fiz uma analogia da relação entre construir um lar e a construção de uma casa. Aqui, reafirmo, a argamassa de um lar é o amor. Sem amor ( de ambas as partes), não é possível construir ou manter um lar. Mas não é preciso apenas amor, sobretudo por que sem as demais virtudes  pode ser que o amor seja apenas de uma das partes envolvidas na construção de um lar.


Quando dois seres se enamoram e começam a se conhecer, inicia o que chama-se convivência. A convivência do casal enamorado nunca é apenas a convivência do casal. Inclui o que chamamos aqui de convivência cotidiana os amigos, familiares, e todo o mundo de ambos. E aqui começa o verdadeiro desafio da construção do lar, pois a forma como cada um entende como deve desenvolver a convivência vai determinar a harmonia do futuro lar. Procurarei elencar aqui alguns erros que considero básicos na construção de um futuro lar:


Primeiro erro - A demora para assumir os próprios sentimentos. Muitos rapazes e moças demoram para assumir para si e para aqueles com quem convivem que estão saindo com alguem.  As razões são variadas, medo da rejeição do grupo, ser motivo de piadas, a moça, ou o moço não ser "aquilo" que o grupo espera, e tantas outras. Eu creio, por observações e leituras, que o verdadeiro e principal motivos da demora em aceitar os próprios sentimentos em relação ao outro está na visão de mundo que se tem. Na maioria das vezes quando se pensa em construir alguma coisa com o parceiro, poucos perguntam se o pretendido tem virtudes, mas todos perguntam se é rico, bonito, tem emprego, tem carro, etc. Esquecem que "as coisas mais importantes na vida não são coisas", e que é mais fácil construir o material que o imaterial. A dificuldade em compreender as diferenças entre dinheiro, riqueza e poder, e a importância das virtudes torna a construção da boa convivência no futuro lar quase que impossível.


Segundo erro - A anulação de si. A anulação de si quase sempre ocorre com um dos parceiros. Dificilmente os dois se anulam. Geralmente um dos parceiros passa a viver a vida em função de agradar o "namorado". Ocorre mais com a mulher do que com o homem. Conheço caso de mulheres que uma vez arrumando o namorado passou a se dedicar dia e noite a buscar formas de agradar o namorado - era o projeto casamento. Seis anos depois o tal namorado simplesmente resolve que acabou e seis anos de vida se vai. Sem nada de positivo para contar pois até os momentos de prazer por artificiais que são nesta condição são esquecidos para sempre por que sem valor. Imagine uma mulher que vive do seu salário, gastando quase tudo do seu salário para "estar bonita" para o namorado. Toda sexta feira o individuo aparece leva-a para jantar, sequer ver o cabelo que custou horrores no salão ( dinheiro, tempo, etc), ele sequer percebe o preço da calcinha. Ela gasta em seis anos o que poderia ter sido a compra de uma casa, apartamento só para agradar aquele que um dia vai dizer que não dá. É claro que um homem ou mulher que leva seis anos para descobrir que o outro não lhe serve é no mínimo um canalha. Acredito que namoro tem prazo de validade. Depois de um ano, no máximo dois anos, o parceiro não manifestou as virtudes da tolerância, não produziu momentos de convivência, não divide a vida, é por que é hora de jogar o produto no lixo. Um homem ou mulher que em seis meses de "saídas" ( e olha que sair hoje é ir pra cama), ainda não teve a dignidade de apresentar o parceiro para família, convenhamos, é produto vencido.


Terceiro erro - O início da convivência com o grupo familiar. Minha mãe que nunca leu um livro nesta vida a não ser a biblia, disse-me ainda na minha primeira tentativa de relacionamento valendo da sabedoria dos nossos ancestrais: Filho, se você conhece a família de uma moça e se sente rejeitado, desista. A família de sua futura mulher deve gostar de você até mais do que ela própria, do contrário é casamento que já começa fracassado. Não acredito no radicalismo da minha mãe, por que creio que o futuro da convivência está na postura do futuro casal. Se os dois entendem que ali vai nascer uma nova família e colocam as bases firmes, limite bem definidos, tudo segue. Quando os dois não estão preparados para colocar limites para o grupo familiar é por que na verdade um e outro ainda não estão prontos sequer para se relacionar. Neste caso recomendo a Leitura do Livro da Illa Vanzant. "Enquanto o amor não vem". Rapazes e moças que não conseguem tomar nenhuma decisão sozinhos, e tudo, tudo mesmo tem de perguntar para a mãe, pai,amigos etc, não devem tentar construir um lar.  Imagina, no caso da nossa analogia, o pedreiro procurando para alguém como colocar cada tijolo na parede? e o pior, é que alguns pergunta para mais de uma pessoa, e cada um dá uma resposta diferente. Se construir um lar é construir uma casa colocando tijolo por tijolo é preciso que antes aprenda o ofício.


Quarto erro - Meus amigos são meus amigos, seus amigos são seus amigos. Mentira. Isso não existe. Se pretendes construir um lar, esqueça isso. Quem casa quer casa, quer dormir juntos, quer dividir. Se você quer ter esta tal de individualidade não case, pois o que você vai ter não é um lar, é dividir o apartamento com outra pessoa com quem você faz sexo. Construir um lar significa aprender com o outro. Quando se planeja construir um lar tem de estar ciente de que vai experimentar muitas coisas diferentes. Isso significa fazer menos aquilo que gostamos, e, fazer junto com outro aquilo que o outro gosta. Hoje, são muitas as pessoas que acreditam que é possível ter um casamento e um lar cada um tendo seus amigos, suas atividades de lazer, praticamente cada um para o seu lado. Geralmente, nestes casos quando o primeiro filho  nasce uma das partes se isola, se anula para cuidar dos filhos enquanto que o outro continua com seus amigos, seu lazer, etc. Quando se permanece no mesmo rumo é questão de tempo para o relacionamento se desfazer. Quando se casa com uma pessoa com o intuito de construir um lar é como me disse uma certa pessoa, tem de levar o pacote completo. Defeitos, qualidades, amigos, família, tudo. Do contrário o futuro será de frustração e arrependimento.


Quinto erro - Não cuidar do outro. Este é o erro mais cruel em um relacionamento Em alguns casos com a justificativa de manter a individualidade, atender aos próprios desejos, um dos pares simplesmente se recusa a cuidar do outro. Conheci um caso em que uma garota me confidenciou ter ficado uma semana internada em um hospital e o namorado com quem já estava a dois anos não foi visitá-la; um caso desse não há dúvida, não tem possibilidade de se construir um lar. A construção do juramento "na saúde na doença, na tristeza e na alegria até que a morte os separe", não acontece por milagre vindo da boca de quem celebra o casamento. Não tendo sido construído dia, a dia, tijolo por tijolo simplesmente não acontece. Cuidar do outro significa, às  vezes, renunciar a si mesmo. Moças e rapazes cuja prioridade um é a "carreira profissional" nunca estarão prontos para a construção de um lar.  A carreira profissional pode estar no máximo, no mesmo nível de hierarquia de valores do que significa cuidar do outro, do contrário, esqueça. Não há lar possível para quem só pensa em trabalho, trabalho, trabalho e lazer. 


Por fim, vale a pena repetir aqui o que está no primeiro artigo como complemento para se compreender os elementos básicos da convivência cotidiana.


Construir um lar significa plantar as sementes da vida e da virtude. Para construir um lar é preciso que os candidatos homem/mulher se conheçam. É preciso que se passe tardes e fins de semanas juntos conversando, passeando de mãos dadas, ouvindo um do outro as formas de se viver e amar a vida. Sim, pois mesmo que ambos sejam do bem e acreditem no amor, é preciso ter harmonia na forma de amar. É preciso sintonizar as formas de sentir o suave toque a brisa, é preciso aprender a respirar juntos. É preciso que ambos se afinizem com a chama divina que existe em cada um de nós para que o futuro lar seja protegido das forças das trevas que produz as intrigas do dia-a-dia.
Para se constuir o lar é preciso haver um querer de ambos os lados. Mas não apenas querer. È preciso haver querer e disponibilidade. Hoje, muitas mulheres e muitos homens estão alquebrados de relacionamentos dos quais insiste em não se desapegar. Pessoas apegadas relacionamentos passados não estão prontos para construção de um lar. Podem estar prontos para um casamento, querer ter filhos, construir patrimônimo, mas não estão prontos para um lar. Não se cosntrói um lar perguntando para um ex-namorado como agir nas novas situações. Constrói-se um lar entregando-se de corpo e alma ao amor que deve reger a cosntrução de um lar.



A argamassa de um lar é o amor. As virtudes da tolerância, prudência, bondade, paciência, cuidado, e amizade. È preciso manejar bem o esquadro da retidão, da fidelidade e do respeito. Cada medida deve ser pensada, medida, pesada e alinhada.


Nos dias atuais, quando tudo parece se resumir ao consumo desenfreado, competição desmedida, e todos querem viver para satisfazer os próprios desejos, construir uma lar onde haja uma convivência saudável é tarefa que exige mais do que vontade, significa aceitação, tolerância e muito amor.

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