História de um Processo parte 4.
O
interrogatório.
O
primeiro encontro no escritório de Advocacia foi um terror. Eu me lembro de ter
saído de lá me sentindo um criminoso de tão cruel e doloroso foi o
interrogatório ao qual fui submetido. Tratava-se de um escritório “Sariedine,
Advogados associados”. Fui recebido pela estagiária, Dr. Suelene que pegou o
processo que e foi para uma sala reunir-se com os advogados. Depois de quase
duas horas fui chamado na sala. O que
ficou em minha memória foi um terror em série. Parecia uma daquelas situações
onde o criminoso é quase que torturado para admitir um crime que não cometeu.
Os
advogados entreolhavam-se incrédulos, e sem querer acreditar que eu teria sido
demitido pelo que estava ali naquela pasta. Todo tipo de pergunta, hoje para
mim,, ofensivas, me foram feitas. Chorei naquele dia. Já havia sofrido
perseguições antes e em situações que exigira de mim força para manter meus
princípios e não ceder argumentos que pervertem a realidade e corrompem a alma
de um ser humano, mas nunca havia sido acusado diretamente, questionado,
pressionado sobre eu ter feito ou não coisas erradas daquela maneira.
Ao
final, o Dr. Francisley Nery assumiu o
processo. E então fizemos a primeira viagem a Goiatuba. No caminho, acompanhado
da Estagiária, o Doutor afirmou que antes mesmo de protocolar o mandado de
segurança iria na faculdade para ouvir o diretor e até mesmo tentar uma solução
amigável, dado que segundo eles, não havia motivos nos documentos que ensejasse
minha demissão. Assim fomos. Todo esforço de diálogo foi infrutífero e inútil
perda de tempo. Entretanto, após conversarem com o diretor e com a presidente
da FESG, eles se convenceram de que se tratava de alguma rusga particular e
pouco importante, e que entrar com um mandado de segurança seria a solução.
Disseram que seria uma coisa rápida, que em no máximo trinta dias o juiz daria
a liminar e poderia retornar as funções. Assim foi feito. Entretanto, assim que
foi dado entrada no processo, ouvimos de alguma pessoas que jamais seria
julgado, ,que o juiz estava “nas mãos do prefeito”. Embora diversos escândalos
apareceram nos anos seguintes, nunca fui atrás de saber se o juiz era corrupto ou não, mas uma coisa é
fato; O juiz da época, Doutor Edson, não julgou a liminar e nem o mandado de
segurança que só foi julgado três anos depois e pelo Juiz Doutor Leonardo
Aprígio Chaves.
O
doutor Edson não julgou o processo. Recentemente, investigando para entender
por que um juiz que ganha tão bem, poderia se recusar a julgar um mandado de
segurança, encontrei uma explicação que pode ter alguma lógica. O Doutor Edson
faz parte de um grupo de sete homens que
fundaram a Maçonaria na Cidade de Goiatuba, e como o Alzair, principal mentor
do processo contra mim e até hoje, um trabalhador árduo para que eu não ganhe o
processo seja maçom, talvez esteja ai a explicação. Na época que cheguei a Goiatuba, o prefeito
era Godofredo. Busquei documentos da época, como edital do concurso para o qual
fui selecionado e não encontrei.
Alzair
Eduardo Pontes tinha muita influência na
época, tanto que se gabava pelos corredores de ter derrubado três presidentes
da FESG. O poder dele só diminuiu com a ascensão de Marcelo Coelho como
prefeito e de Cleiton Camilo para presidente da FESG. O Alzair esteve envolvido
em diversos outros processos na Faculdade, e até mesmo houve um processo no
qual havia acusações de falsificação de
assinaturas. Tudo isso se transformou apenas em memórias. Quando o Fórum pegou
fogo no ano de 2015, todos os processos que correram na faculdade bem como os
conteúdos foram queimados.
Eu
sempre me pergunto se devo acreditar na confissão feita pelos supostos e
condenados criminosos que colocaram fogo no fórum. Grande parte dos processos
nos quais foram ateados fogo eram da fazenda pública e portanto tinha a prefeitura
como parte, ou a Faculdade. Assim que o
fogo foi ateado, o fórum passou a funcionar, justamente no prédio da faculdade.
Na época, estava meio distante do processo, e antes mesmo que o advogado me
procurasse, pessoas de Goiatuba me alertaram que corria o boato de que eu não
ganharia o processo nunca mais por que o meu processo tinha sido queimado e nada
mais existia que pudesse documentar a questão. Felizmente, eu tinha cópia de
diversas partes do processo em casa, e assim, o processo foi reconstituído.
Da
instalação do processo ao o interrogatório na sala do Advogado deixaram marcas
profundas em mim. Marcas terríveis o suficiente para que eu me tornasse solidária
a pessoas que fazem loucuras quando injustiçadas. É difícil viver com uma marca
tão terrível. Abala os sentidos, a moral, a autoestima. E fere a alma.
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