Religião, Política, espiritualidade e corrupção: Sou religioso, como devo lidar com a corrupção nas religiões.

 


Há um ditado em vigor em nosso país de que religião, futebol e política não deve ser alvo de discussão. Tal ditado  serviu por séculos para evitar que o povo, sobretudo das classes mais populares não discutissem religião ou  política, por que futebol, a bem da verdade, nunca deixou de ser discutido pelo povo. Futebol é o ópio do povo. Com suas torcidas organizadas, invade os lares dos brasileiros, ao menos duas vezes por semana desde que começou a ser televisionado. E são muitos os campeonatos. Tem os campeonatos estaduais, os regionais, os campeonatos nacionais, e os intercontinentais . Sem falar que praticamente toda cidade brasileira tem ao menos um time de futebol que  disputa com os times das cidades vizinhas, levando milhares aos estádios e sorvendo as energias dispersas na distração.

A religião, também  de há muito tempo já não obedece tal ditado. Desde que nos evangélicos começou a disputar as mentes dos brasileiros com a oferta da salvação, com a igreja católica muita coisa mudou. Em muitas cidades brasileiras, os cidadãos são disputados palmo a palmo com as ameaças de que quem não tiver um deus vai arder nos fogo do inferno. Quem parar pra pensar um pouco logo vê que as diferenças de argumentos são mínimas, e no final, o que vigora mesmo são as diferenças de cobrança dos dízimos e emolumentos que devem servir para sustentar uma estrutura de sacerdotes medianeiros com autoridade para serem os intermediários entre Deus e os meros mortais. Entre os evangélicos, as religiões mais tradicionais são – Presbiteriana, Adventista, Batista, Assembleia de Deus, Testemunhas de e Jeova - . Tem uma leva que surgiu entre os anos 1980 e 1990, no calo dos escândalos destas tradicionais, como a Igreja de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus, Fonte da Vida, e tantas outras.

Religião e religiosidade são termos diferentes, mas sem entrar no mérito neste texto, basta dizer que para muitos a religião se constitui o espaço do exercício da religiosidade, o que significa dizer que a maioria dos indivíduos necessita do espaço do templo da igreja para exercer sua religiosidade e desta forma desenvolver o processo de autoconhecimento que o levará a se tornar uma pessoa melhor, mais evoluída com mais consciência e espiritualidade. O grande problema é que quando uma pessoa procura uma igreja, uma religião, um espaço para desenvolver sua espiritualidade, ela chega ali em seu estado mais frágil, de coração aberto e disposto a seguir as instruções e regras para se tornar uma pessoa melhor. E é nesta fragilidade que os falsos pastores, os pastores corruptos, os falsos guias se aproveitam para usar, manipular e por vezes extorquir o buscador.

Nos últimos anos, o uso da religião como instrumento da conquista do poder político tem sido uma das formas mais cruéis de manipulação, extorsão e utilização dos fiéis como instrumentos de barganha colocados a serviço dos interesses pessoais dos pastores e de suas instituições. Desde os anos 1990, passou existir no congresso a chamada bancada evangélica, e atualmente, conhecida como bancada da bíblica; mas foi no governo Bolsonaro que esta bancada se mostrou  ávida em defender os interesses dos mais escusos e corruptos. Inicialmente esta bancada se restringia a se unir para defender os interesses e direitos ligados a liberdade religiosa, e com o tempo, passou a defender os interesses comerciais das instituições religiosas que foram crescendo em templos, redes de comunicação de rádios e televisão, escolas, universidades, etc.  No Governo Bolsonaro, os líderes destas religiões passaram a se envolver diretamente nos esquemas de corrupção de forma aberta com objetivo de defender os interesses mais escusos como ficou claro no escândalo do MEC.

A questão é , como o buscador, aquele que busca a religião deve lidar com a realidade que se impõe a todos nós?  Em primeiro lugar, é preciso separar a religião da religiosidade, e a religiosidade da espiritualidade.  O cristão, o religioso, o buscador, deve ter claro que não existe um único deus, e se existir deve desconfiar, que orienta seus seguidores a roubar, extorquir, mentir, etc..  Em segundo lugar, deve buscar mesclar a busca da religiosidade e espiritualidade com uma certa racionalidade prática do pensamento do que é o bem e o que é o mal. É preciso racionalizar a fé, como o fez Santo Agostinho, e depois Santo Tomás de Aquino, doutores da fé da Igreja Católica que contribuíram com o pensamento cristão católica e de dentro da estrutura  da igreja desfez muitas práticas da igreja que levavam a certas doutrinas não condizentes com a ideia de um Deus bondoso.

Por fim, o buscador que está nestas religiões, principalmente estas que estão  no olho do furacão da corrupção, deve olhar para dentro. A máxima de Sócrates ainda é verdadeira: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses. Tal frase, escrita por Heráclito no templo de Delfos na Grécia Antiga ainda serve de bússola para quem busca evoluir e se tornar uma pessoa melhor. Ao pensar nela, importância dos gurus, dos pastores e dos chamados guias espirituais diminuirão sensivelmente, e sem destruir a fé abrirá os caminhos para o desenvolvimento da razão, do pensamento crítico e analítico e a possibilidade de uma maior compreensão da realidade.

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