Educação e Corona Vírus – Por que o semestre letivo deve ser suspenso




 Nelson Soares dos Santos

Pandemias já ocorreram em diversos momentos da história. E, são nestes momentos que as autoridades necessitam de coragem, autoridade e serenidade para lidar com a situação de forma a propiciar a população os melhores caminhos a seguir. Durante a peste a Negra as aulas foram suspensas por um ano e meio. Durante este período, um jovem foi para a casa de campo da família, e quando retornou apresentou ao mundo as três leis da Gravitação Universal.  Este jovem era Isaac Newton, e a suspensão das aulas não lesou a humanidade do avanço necessário nas ciências, nas artes e na cultura, e sim salvou muitas vidas. Outro momento da história, no qual as aulas foram suspensas, foi na França durante  a pandemia  da peste bubônica. Escolas foram fechadas, quarentena decretada, ninguém entrava ou saia da cidade.

No Brasil, em tempos bem recentes, no regime Militar,  no ano de 1971/1974, durante a pandemia da meningite, as aulas foram suspensas, escolas fechadas, e todas as medidas, as mais drásticas foram tomadas, e ao retomar a normalidade as autoridades escolares tomaram as providências necessárias para regularizar a vida escolar dos alunos. Na pandemia atual do Corona Vírus não tem sido assim. Inventou-se o que se chamam de aulas remotas, na verdade são aulas online, utilizando os meios tecnológicos já experimentados de alguma forma pela educação a distância, regulamentada, e que pretende, embora com as escolas fechadas, manter a regularidade do ano letivo, sem afetar o chamado ano escolar. Temo que esta tentativa traga grande prejuízo aos estudantes e alunos de todos os níveis, ferindo direito legal dos que possui os estudantes à uma educação de qualidade,  por diversas razões: a) o nosso ensino ainda é muito baseado na relação professor/aluno como pressuposto didático-pedagógico; b) não temos experiência suficiente para o exercício de aulas remotas e hábitos de autoaprendizagem; c) sobretudo os alunos da rede pública não possuem o acesso aos meios de comunicação e internet necessários para lidar com o processo.

A relação professor-aluno ainda é a base do processo pedagógico brasileiro, seja nas universidades destinadas a elites ( Universidades particulares e federais), nos colégios particulares de educação básica voltados para elite e classe média, e mesmo nas escolas públicas. O professor representa para o aluno não apenas uma referência em sua área de conhecimento mas também como um apoio para o desenvolvimento do caráter e da personalidade do estudante. A grande maioria dos nossos estudantes tem no professor, mais do que na família, o apoio  espiritual e emocional para o seu desenvolvimento. Se isso é verdade, nas escolas particulares e nas Universidades, é ainda mais nas escolas públicas, onde o estudante tem no professor a única referência no campo do conhecimento, uma vez que grande parte das famílias não tem um único membro com nível superior de educação. O professor, torna-se não apenas uma referência, um modelo, mas como fonte de aspiração.  Distante do professor, tais estudantes dificilmente mantém a motivação necessária ao aprendizado e a dedicação que os conteúdos didático-pedagógicos necessitam.

A tentativa de implantar as aulas do tipo remoto, ao vivo e online, o que força o aluno, teoricamente, a acompanhar a aula, não substitui a presença física do professor na relação professor-aluno, por que esta relação não é feita apenas do contato entre professor e aluno, mas é uma relação mediada por hábitos, costumes e interação social com os colegas de classe, bem como pela estrutura do currículo oculto das escolas e Universidades. Acrescente-se a isto, o fato dos estudantes não estarem acostumados ao uso das tecnologias como instrumento de aprendizagem escolar, pois mesmo as experiências já em execução, de educação a distância mostram que a distância mostram que a aprendizagem é menor e mais limitada nesta modalidade.

 Nas escolas públicas, sobretudo, do ensino Fundamental, este fator tem ainda, um agravante maior. A grande desigualdade social do nosso país, faz com que a maioria das famílias tem no máximo, um acesso precário a internet, e  a grande maioria não tem computadores para uso dos filhos em casa. Na verdade, em algumas regiões, mesmo o sinal de telefonia é ainda muito precário. Ainda precisamos acrescentar que os estudantes da rede pública, muitos vão a escola apenas pela merenda, e que a suspensão das aulas presenciais não acompanhado de assistência a segurança alimentar, cria nestas famílias inseguranças maior do que a já vivida em moradias precárias e lotadas.

Por todas estas questões apresentadas, é que a suspensão do semestre letivo torna-se necessária em toda rede escolar, da Educação Básica às Universidades. Que os Newtons sejam recomendados o esforço da aprendizagem individual, mas que não sejam forçados todos, a uma situação que só trará prejuízos a formação integral necessária as novas gerações de  homens e mulheres, em quais mãos estará o futuro da nação e da humanidade. Manter aulas remotas é apenas fingir o processo de aprendizagem que pode, nos casos das particulares, justificar a continuidade da cobrança de mensalidades. E se for esta a questão, que o Governo discuta meios de auxilio as faculdades e colégios particulares, sem perder de vista a cota de sacrifício que o momento exige de cada um, e sempre consciente que deve cobrar mais dos que mais acumularam em suas dispensas. 





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