Trigésimo sétimo dia de quarentena. - O início da tragédia.




Goiânia, 21 de abril de 2020.

É feriado. Parece que quase ninguém se lembra a razão. 21 de abril de 1500, foi o dia oficial do descobrimento do Brasil. Conta a história  oficial que Pedro Alvares Cabral desembarcou de suas caravelas, e a forma como se conta a história parece que os índios os receberam como velhos visitantes amigos que há muito tempo não se encontravam.  Hoje, sabemos que não foi bem assim. É difícil, conhecendo a índole guerreira dos índios e o espirito descobridor dos portugueses que tudo tenha ocorrido de forma tão pacifica. Como de fato ocorreu, nunca saberemos. Assim também será no futuro as especulações sobre quantos estão morrendo pelo corona vírus no Mundo e mais ainda no Brasil. A tragédia que se começou em 1500 continua nestas terras, e a verdade quase nunca é contada.

Os dados de hoje, são de que 2.5 milhões já morreram em todo mundo, vítimas desta pandemia. Os problemas se agravam em diversos países e no Brasil não é diferente. Na cidade de Manaus o prefeito chorou durante entrevista na qual lamenta a quantidade de pessoas que estão morrendo sem assistência do sistema de saúde. Em São Paulo, a curva segue em direção ao pico, aumentando o número de mortos e os hospitais públicos já não conseguem contratar UTIs.  Já são seis, os estados brasileiros com alto nível de  ocupação de UTIs, ou seja com mais de 90% de ocupação. Na contramão de tudo isso, o Governo Federal força os estados a relaxar a política de isolamento assumindo o risco do aumento do número de mortos.

No estado de Goiás, o Popular noticiou de forma didática o resultado do esforço de isolamento, agora flexibilizado por decreto. A parte mais curiosa foi a liberação das igrejas para voltar a fazer seus cultos. Eu estou muito curioso que padres, pastores e líderes religiosos terão coragem de colocar seus fiéis para correrem o risco de serem contaminados e acabarem mortos. Os defensores do fim do isolamento argumentam que é preciso liberar tudo, que afinal, muitas pessoas vão morrer de qualquer forma, e que sendo inevitável a morte de muitos, é melhor se preocupar com a economia. A grande questão que muitos não estão levando em conta é que a questão não só o fato de que muitos vão morrer, mas também o fato de que existe um como morrer. Precisamos trabalhar com a ideia da morte digna e assistida para todos. Já estão acontecendo casos de pessoas morrendo em casas, sozinhas, sem conseguir respirar. É uma situação muito triste e sofrida que precisa ser pensada.

No campo político, a tragédia continua. A oposição não tem forças para pedir um impedimento do presidente. E este, continua testando a força e os limites das instituições do Estado Democrático de Direito. O jogo mundial e o chamado pacto global poderá ter uma influência decisiva nos rumos internos, mas por enquanto, a aliança do Presidente Bolsonaro com o Presidente Americano Donald Trump vai dando o respaldo mínimo de que precisa o presidente para se manter no cenário internacional. Por aqui, as forças de esquerda  ou oposição ( representados pelo PT), não emite sinais de que tem forças para estabelecer algum ponto de luta. Restaria ao Centro, liderados por governadores como João Doria de SãoPaulo, Witzel do Rio de janeiro, Romeu Zema de Minas Gerais, algum movimento no sentido da destituição de Bolsonaro. Sem estes Governadores, qualquer movimento pode não ter a força suficiente, e estes governadores estão por demais ocupados com as crises vividas por seus respectivos estados.

Os sinais emitidos pelos governadores de que tendem a flexibilizar o isolamento coloca nas mãos dos munícipios a responsabilidade pelo que fazer diante da pandemia. Muitos municípios emitem sinais de que vão reabrir os comércios. No estado de Goiás, apenas Aparecida de Goiânia, entre os maiores munícipios já tinha decreto próprio, e com a flexibilização do Governador, alguns munícipios já se movimentam para assumir a responsabilidade de definir os rumos do enfrentamento da pandemia. Resta saber se conseguiremos conviver com o número de mortos que se avizinha.

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