Trigésimo Oitavo dia de Quarentena – Governado por militares.




Goiânia, 22 de abril de 2020.

A realidade é vista por poucas pessoas, e menos pessoas ainda conseguem perceber e tomar consciência da mesma. Seguir as evidências e observar os fatos é uma condição que exige precipuamente capacidade de pensar por si mesmo. O momento atual da política brasileira começa a mostrar que poucos analistas estão conseguindo ver para onde de fato, está caminhado a política  Brasileira. A eleição de 2018, ainda foi compreendida por poucos, e menos pessoas ainda, conseguem perceber a realidade presente. Quando tomou posse, Bolsonaro prometeu cumprir uma promessa de campanha de que não negociaria com ninguém para montar seu governo, e isto pareceu aos olhos de muito e ainda parece, como sendo algo muito positivo  no sentido de moralizar a política e combater a corrupção. A verdade é que isso não aconteceu. Diversos ministérios foram frutos de indicação como o Ministério da Saúde, cuja indicação foi a ala do DEM de Ronaldo Caiado.

Os seguidores de Bolsonaro não conseguem perceber os passos do líder por que o seguem de forma acrítica, e a oposição erra por que o subestima. Foi assim desde que ele lançou o projeto de ser presidente da república. Por outro lado, a imprensa que ele tanto critica, faz o papel de sua maior propagandista quando divulga cada maluquice que ele faz.  A estratégia de Bolsonaro foi sempre manter um número mínimo de apoiadores barulhentos, usar a imprensa como inimiga que o serve, e enfrentar de forma virulenta seus adversários escolhendo uma vítima por vez. Uma vez no governo, para alcançar o objetivo de montar o governo dos sonhos, ( totalmente militarizado) passou a utilizar uma dupla estratégia; uma interna ( eliminar ou enfraquecer aqueles que não se alinhavam totalmente às suas ideias) e outra externa, escolhendo como inimigos preferidos a imprensa, o PT, e transformando em “Comunistas”, qualquer pessoa que ouse discordar dos rumos do Governo.

A partir desta estratégia, e com  táticas e movimentos diários , rebaixou ministros, demitiu outros e foi militarizando o Governo Federal. Com a demissão do Mandetta do Ministério da Saúde, todo o governo federal está militarizado e controlado por um modus operandi militar. O objetivo está quase alcançado. Um governo construído e gestado pelos herdeiros da ditadura militar aliados a uma nova direita que ainda não construiu uma identidade social consistente representada pelo centro e partidos como o NOVO, PR, Republicanos, Solidariedade, PSD, e outros. Esta realidade que poucos estão conseguindo ver, torna inútil qualquer tentativa de impedimento do presidente da República, uma vez que o vice-presindente é um General e a maioria dos ministros e todo governo já é controlado pelo modus operandi militar. Bolsonaro representa e coloca em prática uma tática como movimentos de diários de uma estratégia mais ampla comandada por estes grupos. O que resta saber é até quando Bolsonaro serve aos propósitos deste grupo que além dos militares e da nova direita, possui um grupos do empresariado que o apoia de forma entusiasmada e pode garantir uma base mínima de sustentação no congresso Nacional.

As negociações que estão ocorrendo neste dia 22 de abril, mostra um pouco o desnudar desta realidade. A entrevista do novo Ministro da Saúde, que inseguro, parecia tutelado pelos militares e anunciou como seu Secretário executivo e braço direito um General, é uma grande evidência a ser observada. Outros fatores, são a presença do Governador de Brasília, vista por muitos como uma aproximação do MDB junto ao Governo Bolsonaro, e as conversas e negociações com os lideres do chamado Centrão, onde o governo negocia cargos do segundo e terceiro escalão em troca da construção de uma base mínima no Congresso.

As atitudes de Vários Governos estaduais flexibilizando o isolamento social já em curso nos estados, parece ser uma tomada de consciência destes fatos, mas com uma ausência da compreensão dos efeitos políticos. Bolsonaro utiliza bem as fragilidades do pacto federativo que coloca Estados e Municípios com o “pires nas mãos”, para sujeitar e manipular a opinião pública contra os governos municipais e estaduais, que agindo ou não agindo, ficam em uma situação desconfortável perante a população. O esforço do confinamento sem auxilio financeiro para a população passa a ser, aos olhos da maioria, tão danoso quando a tragédia de um alto número de mortes pela pandemia.

A tática  Militar/nova direita/ Bolsonarista funciona tão bem, que menos de uma semana após demitir o ministro Mandetta, o Ministro Moro e Guedes já começam a sofrer pequenas derrotas que podem colocá-los na mira de uma demissão. Seriam os últimos ministros da explanada fora do controle absoluto do grupo que governa e suas demissões abririam espaço para se colocar em prática o verdadeiro plano de governo que está em alguma gaveta – um governo autoritário, focado no controle e voltado totalmente a uma pequena elite empresarial. Enquanto a oposição não consegue perceber os reais objetivos do Governo Bolsonaro, este usa a pandemia para dar consecução aos seus objetivos, consciente de que a politica sempre foi a guerra por outros meios. A oposição perde a guerra das narrativas e da comunicação por que não tem clareza contra o que está lutando.

A esta altura dos acontecimentos pouco importa discutir se será bom ou ruim ser governado por esta nova conformação política, afinal, já o estamos sendo. É importante perceber os desdobramentos, prospectar o futuro, mas que tudo olhar para o presente que parece cada vez mais escuro. Para os especialistas, estamos próximo do pico de contaminação da pandemia, e já falta leito d UTIS em vários estados. A morte, de pelo menos 2% da população começa a ser vista como inevitável, considerando a entrevista do Ministro da Saúde. A reflexão que se faz não é mais como salvar o maior número de vidas, mas como cuidar daqueles que não vão morrer. E sendo assim, já pouco importa os dados dos aumentos das mortes por que já importa, o que importa é retomar a vida mesmo que diante da morte inevitável.

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