Autoridade Divina ou O poder da caneta: Bolsonaro e o rei que comeu capim
Cada
qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que
não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus.
Assim, aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação.
Romanos 13:1-3
Assim, aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação.
Romanos 13:1-3
Foi na França que a ideia de que o governante
possuía autoridade concedida por Deus ganhou maior força na história recente. O
Rei sol, não apenas julgou incorporar em si o poder Divino como afirmou ser ele
o próprio estado com sua famosa frase “O Estado sou Eu”. Antes dele, o outro
exemplo histórico conhecido foi Nabucodonosor, Rei da Babilônia, que se sentia
a própria mão da divindade a governar o mundo. No caso de Nabucodonosor, ele
passou anos comendo capim, segundo a Bíblia; e no caso do rei francês, foi
derrubado pela revolução Francesa e alia acabou a história da monarquia francesa.
Quando todos pensavam que Bolsonaro estava
realmente isolado, que suas postagens estavam sendo apagadas nas redes sociais,
ele consegue a proeza de criar para ele mesmo, uma oposição. Ao afirmar publicamente
que tem o poder da caneta e que pode demitir os ministros que estão se achando
estrela, Bolsonaro escancara o seu próprio isolamento, sua falta de poder e sua
inapetência para governar. Se realmente tivesse poder e coragem para fazê-lo,
Bolsonaro já teria demitido o Ministro da Saúde. Sabe que se demitir o
ministro, pode inclusive perder o mandato. Na verdade, o presidente não consegue
lidar com ministros ou qualquer personalidade que tenha maior popularidade do
que ele.
Parece claro que a ameaça foi endereçada ao
Ministro da Saúde. Com mais de 70% de aprovação popular, Mandetta se tornou uma
espécie de Pop Star e um político em ascensão. Conseguiu galvanizar para si a
atenção do país e a chamou a responsabilidade para dar a direção de unidade que
faltava as ações dos governadores, mesmo enfrentando discordâncias públicas com
o chefe que tem a caneta que o nomeou e pode demiti-lo. Mandetta sabe que dificilmente
irá continuar ministro, sabe que tais confusões tem um preço, mas escolheu o
caminho seguro de ficar ao lado da classe médica que em sua maioria, defende o
isolamento social.
Bolsonaro assumiu o risco de vilipendiar a
pandemia, tratar como uma mera gripe, e forçado a mudar o rumo não consegue
encontrar o equilíbrio necessário, para recuando, colher os frutos do fato de
que foi ele quem nomeou o ministro. Perdido, o presidente convoca um jejum
nacional, que só serviu para dividir ainda mais, a frágil base social que ainda
o apoia de forma incondicional. O jejum, levou diversos líderes espirituais e
evangélicos a questionar o papel de um presidente e qual legitimidade ele
possui para se autoproclamar também um líder religioso. A pergunta se a autoridade do presidente foi ou
não concedida por Deus, agora é questionada nos rincões mais fiéis ao
Presidente.
Qualquer mero leitor da bíblia que já leu
romanos, encontrou esta passagem que está na epígrafe do texto. Para os
cristãos e seguidores do Talmude, Tora e a Biblia, toda autoridade é concedida
por Deus, entretanto, nenhuma autoridade pode inspirar temor a quem pratica o
bem, aliás, a todos aqueles que praticam o bem deverá ter o louvor da
autoridade. E aqui está o grande problema do Bolsonaro. 70% da população
compreende que o Ministro está a fazer o bem, sendo assim, deveria inspirar
louvor e não ameaças por parte do presidente. No caso de Nabucodonosor, depois
de fazer muitas bobagens, Deus o colocou para comer capim. Resta saber, agora
se Bolsonaro terá o mesmo fim. O ministro, alvo as ameaças, só ficou sabendo
horas depois. Ele dormia e descansava enquanto o presidente o ameaçava de demissão.
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