Os herdeiros da ditadura em Goiás: A ditadura não acabou.



O 31 de março, em Goiás, passou batido. Tempos de corona vírus, no qual um dos ícones da direita brasileira assume a linha de frente em defesa da vida, isso parece natura. Entretanto, é preciso seguir Adorno, e a única forma de não permitir que as coisas não aconteçam mais, é manter a memória dos acontecimentos. A ditadura militar no Brasil, deve ser lembrada, para que não se repita. Não podemos e não devemos permitir que a vida seja menos importante que qualquer coisas. É por esta razão, que os alemães mantém o museu em memória do Holocausto.  Em Goiás, não tivemos no período democrático, nenhum governo que possa ser considerado de esquerda, e talvez um dos estados que mais foi generoso com os herdeiros da Ditadura.

Aqui, o campo progressista foi liderado por Iris Rezende Machado, que após o fim da ditadura, e considerado um dos prejudicados em sua carreira política, elegeu-se governador e se manteve no poder por quase 15 anos. Em seu grupo, estava outros dois grandes líderes progressistas: Aldo Arantes e Henrique Santillo. O primeiro, faleceu algum tempo após exercer o governo do Estado em sucessão a Iris Rezende, o segundo, mudou-se para São Paulo, onde exerce funções na Direção do Partido Comunista do Brasil. Outro grupo, que lutou contra a ditadura se organizou a partir do Partido dos Trabalhadores, tendo em Osmar Magalhães e Pinheiro Sales, seus representantes mais legítimos.

Mas o que não se fala é nos herdeiros da Ditadura. O último governo nomeado pela ditadura foi Ary Ribeiro Valadão.  Governou do ano 1979 a 1983. Com a redemocratização e a divisão do estado, foi eleito deputado federal pelo Tocantins, no ano de 1989. Ainda concorreu para Governador do Estado do Tocantins, no ano de 1990, e no ano de 1994, tornou-se suplente de Deputado Federal pelo PPR do Tocantins. Sua esposa, Maria Valadão, também continuou na política, e foi deputada Federal por Goiás em 1990, e reeleita em 1994. Como  se pode ver, as urnas foram generosas com o último governador goiano que representou a ditadura militar em Goiás.

Não foi diferente com seu Antecessor Irapuam Costa Júnior. Tendo sido o 67° Governador do Estado e exercido mandato de 16 de março de 1975 até 15 de março de 1979, Irapuan foi logo em seguida, deputado Federal  de 1983/1987, e senador de 1987 até 1995.  Com sua ex-esposa Lúcia Vania, com quem teve três filhos, as urnas goianas foram ainda mais generosas. Lúcia Vânia foi candidata a Governadora, e nos anos seguintes, exerceu mandato de deputada Federal, ocupou cargo Federal de Secretária de Assistência Social no Governo FHC, foi eleita senadora, cujo mandato foi encerrado no ano de 2018. E Atualmente, exerce o cargo de Secretária Estadual de Assistência Social, no governo de Ronaldo Caiado. Lúcia Vânia Abrão, ainda elegeu seu sobrinho Marco Abrão Deputado Federal pelo PPS, no ano de 2014, após o mesmo exercer cargos no Governo Marconi Perillo.

Esta pequena análise  mostra que os herdeiros da ditadura em Goiás, nunca deixaram o poder. Eles, estiveram, sempre e de alguma forma, encastelados na estrutura do Estado, e isto explica a eleição do Governador Ronaldo Caiado, que desde o fim da ditadura se ergueu como líder da Família Caiado,  aliados do Regime Militar em Goiás. Caiado assumiu a liderança dos ruralistas, foi candidato a presidente em 1989, e desde a eleição seguinte foi eleito repetidas vezes como deputado federal, tendo sido eleito no ano de 2014, Senador da República por Goiás. Um estudo aprofundado pode mostrar que a mesma situação se repetiu nos munícipios do estado, o que impediu a renovação dos quadros políticos e a implantação de fato, de uma política democrática no estado.  Nestes anos todos de democracia, vivemos na verdade, uma disputa nunca vencida em Goiás. As ideias elitistas e autoritárias permaneceram e até se fortaleceram nos últimos anos.










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