Vigésimo primeiro dia de quarentena – A nação prestes a chorar.
Goiânia, 05 de abril de 2020
É domingo de ramos, eu quase não me lembrei.
A notícia da enfermeira goiana, Adelita, falecida no dia anterior ainda estava
tão forte em minha mente que não me lembrei do calendário litúrgico. Não que
seja um católico praticante, até por que não aderi ao jejum nacional convocado
pelo presidente contra o vírus. Achei tudo uma hipocrisia sem fim. A busca pelo
conhecimento levou-me a buscar a ver a vida com uma sinceridade de quem se olha
no espelho e se aceita como é. Não é o caso dos religiosos que fizeram jejum
hoje. São hipócritas. Jesus os teria chamado de hipócritas se fariseus.
Defendem um jejum mais espoliam os pobres, defendem a torturadores, falam com
violência, e, desprezam aqueles que mais precisam de conforto.
Quero voltar a Adelita. A morte dela foi noticiada pelos grandes
jornais do país. Era enfermeira, tirou fotos pedindo para as pessoas ficarem em
casa. Os pais assistiram seu enterro ficando a vinte metros de distância.
Embora a morte de Adelita tenha sido notícia, apenas os amigos próximos e
familiares choraram sua perda. A grande maioria da população ainda não entendeu
a necessidade do isolamento social, não
entenderam o pedido de Adelita. Alguns, defendem o isolamento, mas eles
mesmos se aglomeram como se pudessem por milagre estar imunes ao vírus. Não estão,
e não estarão.
Repete-se no Brasil, a história da Itália,
EUA e outros países. Hoje, estas nações choram. A Itália comemora, hoje, o fato
de que morreram menos de 600 pessoas ( 525), o recorde diário chegou a 969.
Dizem os especialistas que o pico da contaminação, aqui no Brasil, ocorrerá até o dia vinte de abril, e, até lá,
teremos a nação chorando, e não apenas os familiares e amigos da Adelita. É
verdade, que ouvindo os especialistas, a pandemia é uma realidade que vai matar
muita gente. O ministro, avalia que nas
perspectivas mais otimistas, teremos mais de 100 mil mortos.
Enquanto o presidente Bolsonaro jejuava e
lamentava a crise econômica que virá após a pandemia, era anunciado que o
número de mortes no país, chegou a 486 mortos, com 11.130 casos oficiais. Olavo
de Carvalho, o filósofo da morte e da baixaria, pedia a demissão do Ministro, e
a deputada Janaína pede a saída do presidente que apoiou. Os opositores de
centro e esquerda, incluindo Lula e FHC também fazem coro ao discurso de que é preciso
afastar o presidente como mecanismo de facilitar a luta contra a pandemia e
proteger o maior número de vidas e a economia.
Os ambientes ficam turvos, o medo começa a se
espalhar. A verdade já não parece tão
cristalina. E mesmo assim, parece tudo tão óbvio ao Filósofo Olavo de
Carvalho. Escritor de dois livros, entre os mais vendidos, Olavo de Carvalho
parece aquele personagem Trimagasi saído do filme espanhol “ O poço”. Tudo para
ele, é tão óbvio. Para ele é simples chamar qualquer um de idiota, basta para
isso que não concorde com as ideias dele. Idiota, imbecil, são palavras
frequentes em seus escritos, que por outro lado e em contradição, afirma ter
dedicado a vida na busca e no amor pelo conhecimento. Não se encaixa jamais, na
definição de Filósofo da Escola Grega de Atenas que nos legou Socrátes, Platão,
Plotino, Aristóteles e Proclo.
O conservador Olavo de Carvalho não parece
está preocupado em salvar vidas. O amor que afirma ter pelo conhecimento ainda
não o levou a compreender que é na vida que temos oportunidade de aprender e
crescer em sabedoria. Não compreendeu o que Platão, Plotino e Proclo tentou
explicar sobre a existência do Mundo das Ideias. Olavo não está sozinho, ainda
que divergindo em pontos sensíveis, parece apoiado por uma legião e fãs
alucinados, cuja forma de seguir o mestre nada se parece com o comportamento
dos livres pensadores. São milhões de seguidores nas redes sociais. Dizem que é
o principal mentor do Governo Bolsonaro, e já acusado por ex-aliados de também
ser o responsável pelo possível derrocada desse mesmo governo. De uma forma ou
de outra, é a pena sendo usada para guiar a escuridão. A capacidade de bem
expressar e comunicar, bem como de convencer não significa a existência de um
conhecimento que leve a sabedoriai e a luz. Olavo, é o exemplo desta tragédia.
A pandemia tem revelado a todos nós, não que
muitos não soubessem, mas que agora não dá pra ignorar, a grande desigualdade
que existe no Brasil, o quanto não se investiu em saúde, educação e
infraestrutura. Somos um país com alta concentração de renda, onde uma pequena
quantidade de milionários vivem de explorar a pobreza e a miséria do povo.
Temos os milionários da mídia, da indústria e das religiões. Todos explorando a
miséria, a pobreza e a ignorância.
Agora, podemos vir a pagar um preço altíssimo por tudo isso, mas por enquanto, segue o baile.
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