Ditadura Nunca Mais - Este grito vai muito além de dizer não a tortura.

 


Particularmente acho impressionante a quantidade de pessoas que defendem a ditadura Militar que houve no Brasil, a última que durou 21 anos, e tantos outros que defendem na atualidade uma intervenção militar no Brasil. Naquele momento, idos de 1964, a elite encontrou no medo do comunismo, alimentado por uma guerra fria, os meios para justificar os verdadeiros motivos para o apoio a uma intervenção militar. Por todos os livros que li sobre a ditadura militar, incluindo muitos escritos por generais, a conclusão que cheguei é que os verdadeiros motivos para o apoio ao regime militar estava mais ligados aos interesses da elite em barrar o processo de inclusão social dos trabalhadores nas decisões políticas iniciadas por Getúlio Vargas, do que de fato, o medo de instalação de um comunismo no Brasil.

.Não havia partido comunista forte no Brasil, naquele momento. O PCB vivia uma disputa interna que acabou na cisão que levou a criação do atual PC do B. E não havia uma organização social capaz de produzir líderes que pudesse instalar um governo baseado nos trabalhadores. É preciso registrar, que Castelo Branco em sua biografia, afirma que sequer queria fazer intervenção militar, e que ele mesmo foi alijado do poder nos anos seguintes por discordar dos rumos tomados pela ditadura. Na verdade, não existia a necessidade de uma intervenção militar. A intervenção militar nasceu nas mentes das elites, e os movimentos que derrubaram a ditadura também nasceram nas mentes das elites, no momento, em que tomando gosto pelo poder, os militares começaram a não fazer muita diferença sobre quem torturava e mandava para o exílio. O movimento estudantil daqueles anos era um movimento de filhos de elite. A luta contra a ditadura nunca chegou de fato ao povo, pois o povo, os trabalhadores não tinha consciência, força ou organização para enfrentá-la.

O processo de democratização no Brasil foi um movimento capitaneado por parte da elite, sobretudo a burguesia crescente nas metrópoles. Somente no Governo Itamar Franco/FHC, reiniciou um processo de inclusão social dos trabalhadores e dos oprimidos, programas de atendimento de inclusão social, e consequentemente o crescimento do eleitorado com feições populares. E foi justamente no Governo FHC que reiniciou entre a elite um certo saudosismo da ditadura, uma vez que a inclusão das massas nas decisões política, o aumento do acesso a educação e aos bens culturais começou a incomodar a mesma elite que não aceita dividir o bolo da riqueza da nação.

Os avanços nas políticas de inclusão dos dois primeiros governos Lula, embora, Lula tenha governado para todos, e sobretudo a elite se enriqueceu mais ainda com o crescimento do país, as leis de proteção aos trabalhadores ( domésticas, etc), e a facilitação do acesso a educação superior, universalização do acesso ao Ensino Médio, incomodou de forma definitiva as elites que passaram a atuar politicamente e se mobilizar, já com discursos explícitos exprimindo a defesa de intervenção militar e criando um antipetismo. O petismo e o Lulismo se tornou, para eles, a expressão da defesa das classes populares e da inclusão social.

Por que dizer tudo isso em um texto no qual queremos defender que ditadura e governo militar no Brasil nunca mais? Por que a ditadura não significou apenas tortura a estudantes, fechamentos de Universidades, sindicatos e controle a imprensa. A ditadura foi um freio ao desenvolvimento humano no Brasil, um freio na emancipação dos trabalhadores, ao acesso aos bens culturais e a educação de qualidade, universal e emancipadora. Não por acaso inúmeros educadores foram exilados. É preciso olhar para a ditadura para muito além das torturas e mortes. A ditadura e o governo militar foi uma tragédia em diversos sentidos. Não por acaso a maior disputa no atual governo Lula, é entre Roberto Campos neto, herdeiro e neto do outro Roberto Campos a quem Castelo Branco entregou a condução da economia quando assumiu o Governo em 1964. A luta contra a ditadura é ampla, e é sobretudo sobre a defesa ampla da vida, do desenvolvimento humano, do humanismo, da ecologia sustentável.

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