A questão militar e a queda de Gonçalves Dias: Razões para o comando do GSI e do Ministério da Defesa ir para as mãos de civis.
Houve um tempo em que quando eu ouvia o nome de Gonçalves Dias, vinha a minha mente os poemas que enalteciam a bravura dos indígenas brasileiros. Quem não leu a “Canção dos Tamoios”, que leiam. A bravura do ancestral brasileiro cantada em versos que se tornara imortais. Cito apenas um pequeno trecho (canção dos tamoios ) ,
“Canção
do Tamoio
I
Não
chores, meu filho;
Não
chores, que a vida
É
luta renhida:
Viver
é lutar.
A
vida é combate,
Que
os fracos abate,
Que
os fortes, os bravos
Só
pode exaltar.
Neste dia do índio foi um outro Gonçalves Dias que ocupou minha mente. Em um primeiro momento até recuei de usar o poema do outro Gonçalves dias para homenagear o 19 de abril, que agora também ficará marcado pela demissão do Gonçalves Dias atual. Não consegui descobrir se o General é descendente do outro Gonçalves Dias, mas é no mínimo curiosa a situação. O poema do primeiro certamente servirá de motivação para o segundo.
O demissão do Gonçalves Dias general, ministro do GSI – Gabinete da Segurança Institucional após as imagens divulgadas pela CNN, levanta a questão definitiva: O Governo Lula deve trocar o comando do GSI e da Defesa por civis? Penso que agora é o momento ideal para se fazer isso. Mesmo que o ministro demitido tenha sido traído pela tropa, e em um esforço para manter o comando foi exposto nas imagens em questão, o que fica claro é que todas as forças armadas estão contaminadas pelo bolsonarismo e é preciso fazer um árduo e demorado trabalho para recompor o verdadeiro papel das forças armadas.
Governos civis sempre tiveram dificuldades em lidar com as Forças Armadas no Brasil, e até mesmo militares nos governos que intentaram governar o país como estadistas. Tendo dúvidas disso leiam a biografia de Castelo Branco, Deodoro da Fonseca, etc. O primeiro, governo o Brasil no ínicio do Golpe militar de 64, o segundo, foi o responsável pela proclamação da República que destituiu D. Pedro II e colocou fim no império do Brasil. O que incomoda é que todas as intervenções militares se deram em momentos nos quais a massa do povo está conquistando mais direitos em detrimento de minoria que vive da ideologia do trabalho escravo. Em 1889, a questão da escravidão foi um dos elementos que levou ao fim do império, e em 1964, uma turbulência política instalada desde os avanços nos direitos trabalhistas postos em marcha por Getúlio Vargas.
A queda de Gonçalves Dias, independente do que a CPMI descobrir sobre o que ocorreu nos bastidores, e acreditem, podem aparecer surpresas de todos os tipos, deixa claro que os militares do GSI permitiram a invasão dos três poderes, e de tão contaminados pelo desejo da anarquia que poderia levar a uma intervenção militar, nada fizeram. A grande surpresa nisso tudo foi a atitude de Lula, que no momento de tomar sua decisão não colocou a responsabilidade pela ordem nas mãos do exército, e sim, nas mãos de um civil cuja lealdade ao projeto democrático de governos anteriores já havia sido colocado a prova. O momento atual mostra o quanto Lula acertou. Se tivesse deixado o comando do pós 08/01 nas mãos de qualquer militar o resultado poderia ter sido a consumação do golpe militar, seja pela sublevação do comando, seja pelo coluio que poderia existir e que agora será fruto de investigação.
Embora o bolsonarismo tenha contaminado os militares, os próprios militares devem ser responsabilizados por seus atos, sobretudo aqueles que vão além de suas competências. Afinal, espera-se de homens e mulheres que são remunerados para servir ao estado, e que tem a vida dedicada ao país que saibam inclusive, a obedecer as ordens, e a desobedecer quando elas lhes parecerem absurdas e irem contra a existência do Estado democrático direito e desobediência a constituição. O que se precisa é construir no meio militar um profundo respeito pela constituição e pela vida civil. Quando conseguirmos isso, não precisaremos mais nos preocupar com intervenção militar, ditadura militar ou coisa parecida.
E, então, não pode ser o melhor momento para construir esta saída. Recolocar o comando civil para a sociedade civil. O Ministério da Defesa, e o GSI não são ministérios que dizem respeito apenas aos militares, e sim toda a sociedade civil. Para comando dos militares já tem o Estado Maior das Forças Armadas. Criar uma consciência política e democrática do papel do estado que seja o diminuir as desigualdades sociais entre os militares parece ser o caminho para que compreendam que as forças não existem para defender uma classe social, e sim, para auxiliar na construção de uma nação forte e justa com todo seu povo.
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