Rogério Cruz : O prefeito improvável - Uma contribuição para ajudar a pensar a política goianiense.
Para compreender as dificuldades enfrentadas pelo prefeito Rogério Cruz na gestão da Cidade de Goiânia, é preciso ir além do que é dito e ouvido. É preciso penetrar nas análises mais profundas do mundo político goiano para que se possa compreender as razões e motivos de cada um que se opõe a Rogério Cruz. E antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que Rogério Cruz é negro, e por mais que muitos vão dizer que isso não impacta nas relações políticas e sociais, está mentindo, impacta sim, e pelo menos 30% das críticas que ele recebe devem ser colocadas na conta do racismo existente na sociedade. E seria muita ingenuidade do prefeito se não considerasse a questão do racismo ao analisar as dificuldades que tem enfrentado.
O racismo se apresenta das mais variadas formas. Alguém já se perguntou por que surgiu tantas pessoas tendo voz e falando como se falasse pelo prefeito, e até criar a expressão “Prefeitinhos”? Para alguém ter voz é preciso ter uma imprensa que dê voz a estas pessoas, e sobretudo, outras lideranças políticas que empodere tais pessoas a falar. Não havendo estas condições dificilmente um subordinado ou vereador teria se arriscadoo a falar como se prefeito fosse. O racismo, muitas vezes se apresenta assim, tirando a voz de quem deve ter voz por este ser negro, e de outro lado, dando voz a outros atores, numa tática que diminui aquele que deveria ter autoridade.
Entretanto, precisamos, para compreender ainda mais a questão entender como Rogério Cruz se tornou prefeito. Ele não era afiliado a nenhum grupo político forte, como são, inclusive gente do partido dele; era um vereador, desconhecido, eleito por uma base religiosa, e negro. Tornou-se prefeito por uma destas não probabilidades do destino. Maguito precisava de um candidato a vice que não fosse muito expressivo, representasse uma parcela da sociedade que pudesse ser ampliada, e fosse de um partido com um relativo tempo de televisão. Nas dificuldades das coligações, Rogério Cruz se emplacou. Não havia garantia que Maguito ganhasse a eleição pois concorria com três outros fortes candidatos – Elias Vaz, Delegada Adriana e o Senador Wanderlam. Todos estes fatores favoreceram a escolha de Rogério Cruz, então, a improbabilidade do destino se manifestou. Após se consolidar nas pesquisas, Maguito foi contaminado pelo Covid 19 e veio a falecer, deixando Rogério Cruz praticamente imbatível. Não fosse o Covid 19, ter levado Maguito Vilela, possivelmente Rogério Cruz seria um vice de apenas um mandato, e seria substituído em 2024. A evidência disso está no fato de que logo após o inicio do mandato e confirmada a morte de Maguito Vilela, o MDB se afastou do prefeito.
Sem um partido forte, com apenas um deputado estadual e um federal, Rogério Cruz iniciou seu mandato com muitas desconfianças, inclusive do mundo político, das grandes lideranças, que se viram pegas de surpresa, tendo um outsider no comando da maior cidade e capital do estado. É provável que o prefeito tenha enfrentado enormes dificuldades nos dois primeiros anos nos processos de negociação com empresas prestadoras de serviços ( sim, muitos empresários não se sentem bem negociando com um negro, e ainda de fora) , na liberação de emendas, pois sabemos, que mesmo em um momento que a política do estado se encontra em transição de ciclos, não há um grupo hegemônico, mas nenhum dos grupos vê com bons olhos o nascimento de um novo grupo político e ainda liderado por um negro.
Não havia muito espaço de manobra para Rogério Cruz. É claro que o empresariado e a imprensa faria um empoderamento de novos vereadores, e novos quadros. De outro lado, é preciso compreender que existe nos bastidores questões de negociação de governabilidade que são impublicáveis e quando vem a tona, são nas páginas policiais. A corrupção se tornou uma chaga que tomou conta da sociedade. Os sistemas privados se apoderam da esfera estatal com uma ânsia saqueadora nunca vista. E é neste quadro que surge os problemas da Comurg, e tantas outras denúncias. Não estou dizendo que ha ou não há corrupção, e sim que os impasses existentes, são evidências de que existe uma disputa para ver quem ou qual grupo estará de posse do poder e influência das áreas públicas em disputa. Nesse caso, Comurg, Sáude e Educação são e sempre serão as pastas mais cobiçadas, seja pelo volume de verbas e ou pela influência junto a população.
Dentro destes cenários é possível que Rogério Cruz consiga a reeleição? Os grupos políticos já estão todos se movimentando para 2024, e neste caso, o prefeito depende de usar o poder da máquina com sabedoria para se cacifar. Não será uma tarefa fácil. Primeiro, por que haverá um processo quase natural de nacionalização das campanhas, e neste sentido, Sivie Alves, Gustavo Gayer ( este com o apoio de Bolsonaro), poderão despontar como fortes candidatos. De outro lado, possivelmente o PT terá candidato próprio, pois elegeu três deputados estaduais, dois deputados federais, e na última eleição Delegada Adriana já foi uma candidata competitiva.
O MDB ensaia o lançamento da filha de Iris Rezende, Ana Paula, no entanto, nomes sem tradição na política e lançados com mais de ano de antecedência tem como tática testar a popularidade e a forma como a população recebe o nome. A viabilidade de uma candidatura do MDB depende muito mais dos acordos de bastidores, envolvendo Daniel Vilela, vice-governador e o Governador Ronaldo Caiado, no momento com alta popularidade. O PSD, agora participando do Governo Caiado, fica a mercê da mesma lógica, a escolha de caiado, que passa a valer para o partido também de Alexandre Baldy. Portanto, Rogério Cruz deve se preocupar mesmo com a escolha que Caiado fará em primeiro lugar, depois, com o processo de construção dos partidos progressistas liderados pela Federação Brasil Esperança que inclui PT, PC do B e PV.
O que fica claro, até o momento, é que Rogério Cruz não consegue se movimentar, não consegue se comunicar com a população, e tem problemas com a Câmara de vereadores, o que faz aumentar o desgaste com a base. A melhor tática para o prefeito, seria reconhecer as dificuldades políticas, cercars-se de técnicos competentes para fortalecer a administração, e na medida do possível, construir em sua base novas lideranças capazes de movimentar a população nos bairros, uma vez que não há espaço no status quo da política goiana, para que ele se viabilize para um segundo mandato.
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