Sobre a Falsa Moralidade – De Dalai Lama a Boa Ventura de Souza Santos.

 


Na Bíblia, no livro de Mateus Jesus falou sobre os escândalos. Mas qualquer que aescandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é necessário que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, ser lançado no fogo eterno. E se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que, tendo dois olhos, ser lançado no afogo do inferno. ( Mateus 18). Então quando falamos sobre os escândalos alheios devemos ter o cuidado para que o principal objetivo seja uma reflexão sobre como evitá-los em nossas vidas.




Na última semana, dois escândalos chamaram a atenção do mundo. Um, sobre o Dalai Lama, ter pedido a uma criança para lhe chupar a língua; e outro, de sobre um intelectual do campo da ciência ter sido acusado de assédio por suas alunas. O primeiro, do campo religioso, o segundo, no campo da ciência. Se fôssemos procurar no campo da política certamente que acharíamos escândalos recentes, uma vez que no campo do político e social, os escândalos se tornaram piadas e levo a sociedade a se indignar pouco.

Analisemos o primeiro caso. Dalai Lama representa um seguimento de uma grande religião – o Budismo Tibetano. Uma religião singular, secular e com ensinamentos profundos sobre o Universo, a Natureza, e o Homem. É considerado o maior representante atual desta religião e seguido por milhões de pessoas ao redor do mundo. No entanto, o escândalo mostra que por trás do líder religioso existe um homem bem menor do que a função que representa. Não vou entrar no mérito da gravidade da situação uma vez que esta avaliação é relativa e cheias de questões outros colocadas pela sensibilidade ideológica do momento atual, mas é preciso admitir que o comportamento, uma vez público foi extremamente inadequado.



Vejamos o segundo caso. BoaVentura de Souza Santos é um ícone das ciências humanas. Acusado de assédio em uma reportagem cujos acusadores se colocaram de forma anônima, resolveu admitir que o acusado anonimamente e sem ter o nome citado era ele. Ao admitir para negar e tentar descredibilizar os acusadores se deparou com uma enxurrada de novas acusações e foi afastado de suas funções. Boa Ventura acreditou piamente na impunidade e por isso resolveu se expor. Na atualidade as pessoas que possuem alguma forma de poder tem agido constantemente, no sentido de imaginar que não serão punidos por seus erros, seja juízes, políticos, líderes religiosos, e intelectuais do mundo das ciências.

O que precisamos nos perguntar é o que os leva a acreditar nestas premissas de impunidade. A verdade é que se criou um sistema onde dominantes e dominados, superiores e subordinados se corromperam de tal forma que é impossível analisar com clareza onde começa e termina a iniciação do mal. Boa Ventura, era acompanhado e acobertado pelo seus auxiliar mais próximo que praticava os mesmos males. Sem querer fazer juízo de valor, mas imagino que muitos estudantes se aproveitavam das iniquidades e até se ofereciam para tal em busca da vantagens acadêmica. O problema é que não eram todas as mulheres que estavam dispostas a ter apenas o diploma de mestre ou doutora a qualquer preço. Estas que denunciaram provavelmente fazem parte de um seleto grupo que buscavam verdadeiramente o conhecimento e a sabedoria.

A corrupção das regras e dos costumes se espalhou em todos os níveis da hierarquia social e em todos os subsistemas. E aqueles que buscam viver de forma honesta para com a vida e consigo mesmo são chantageados para ter aquilo que lhes seria de direito ter. Isso está acontecendo nas escolas, universidades, nas igrejas, e em todo tipo de instituição. A forma de lidar com isso é desmascarar aqueles que incorre em processos dúbios de lidar com as regras, leis e protocolos. Os cidadãos precisam se recusar a pagar propina, seja ela pequena ou grande, e este é o único meio de deter a corrupção.


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