Sobre os ataques nas escolas e as formas de enfrentamento. Para pensar o papel da escola.
O que é a Escola ? Alguns elementos para pensar o momento atual vivido pelas escolas brasileiras.
Ainda não superamos a dor dos ataques nas escolas de São Paulo e Santa Catarina, e terminamos o dia desnorteados com os ataques nas escolas de Santa Tereza, em Goiás, e de outra em escola em Manaus. Qual é a melhor forma de lidar com o momento atual vivido pelas escolas? Aumentar a ronda policial no entorno das escolas? Colocar guardas, armados, dentro das escolas ou mesmo na porta de cada sala de aula? Há mesmo quem defenda que os professores tenham direito a utilizar armas no interior da escola. Antes de definir como lidar com esta situação precisamos nos lembrar de uma coisa bem mais simples: Afinal, o que é a escola? Se entendermos com clareza o que é a escola, então talvez, possamos conseguir elencar táticas e estratégias de enfrentamento dos problemas atuais.
A escola é o segundo espaço frequentado pela criança. Quando vai a escola, a criança inicia uma nova fase da vida e começa a experimentar uma nova forma de identidade que a separa de sua família. Durante o tempo que está na escola, a criança/estudante deve desenvolver sua identidade de pertencimento a uma nova forma de comunidade, construir resiliências e viver novas experiências convivendo com novas formas de cultura de vida dos demais. O sucesso escolar de uma criança está diretamente ligado a capacidade de desenvolver o pertencimento escolar. E para isso, é preciso que a mesma sinta segurança, afetividade e possa expressar suas emoções no interior da escola.
Escola é pois lugar privilegiado do aprendizado da cultura científica, mas também um local destinado ao aprendizado de valores, de participação social, de interação e de construção e definição de visões políticas e de visões de mundo. Michel Foucault, em sua conhecida obra “Vigiar e PUNIR” coloca a escola em uma posição privilegiada quando comparada com os hospitais e as prisões. Para ele são três instituições sociais que moldam o ser humano moderno, disciplinando o corpo e o espirito para um tipo de sociedade específica. Em sua outra obra “Microfísica do Poder”, detalha como este processo se dá no cotidiano destas instituições, por meio das relações sociais estabelecidas, sejam elas da autoridade concedida a certos indivíduos, seja, pela capacidade nata de alguns de exercerem um poder de liderança.
Importante esclarecer uma diferença fundamental entre a escola, as prisões e os hospitais. Para Foucault a Escola é o primeiro passo da “fábrica” de corpos dóceis e produtivos em massa. Por meio da disciplina, exercícios, exames, recompensas e punições, a escola molda o corpo infantil e transforma em um adulto dócil, adaptado às regras sociais. A escola alcança este objetivo, no entanto, de forma sutil, sem apresentação da punição como temor, e sim, na maioria das vezes como perspectiva de recompensa ao bom comportamento. Se os estudos de Foucault foi importante pra compreender o papel disciplinador da escola, foram outros estudiosos que deram melhores contribuições para se compreender o processo central que deve ocorrer no interior da escola, o processo de ensino e aprendizagem.
Paulo Freire, e Piaget são meus preferidos. Piaget por que centrou suas pesquisas no sujeito. Segundo ele, é preciso que o sujeito se sinta seguro, tenha confiança e liberdade para que o processo de aprendizagem aconteça, na medida em que o sujeito se apropria dos espaços e dos objetos. Paulo Freire, por que em direção parecida valoriza a cultura e a origem do sujeito que aprende, tanto quando valoriza o processo de aprendizagem como um processo de entrega e amorosidade.
Colocado estas questões, então é que entendemos que a escola deve ficar o máximo possível, longe da aparência de uma prisão. A presença demasiados ostensiva de arma no interior da escola, mesmo que sejam apenas os guardas, retira da escola sua especificidade do exercício da liberdade espontânea que leva a novas descobertas, para uma disciplina imposta por meio do medo puro e simples da punição. Segue pois, algumas dicas de como lidar com a atualidade:
1. Atualizar medidas comportamentais de professores e grupo gestor da escola, com especificidade na observação dos comportamentos desviantes;
2. Orientar professores e coordenadores a corrigirem os comportamentos desviantes com firmeza, mas sem agressividade ou de forma punitiva;
3. Os casos graves separar imediatamente do coletivo com as medidas já previstas no regimento escolar.
4. Debater o assunto da violência nas salas de aula, buscando conscientizar da não violência.
5. Recomendar aos pais que observem os comportamentos dos filhos, e comunicar a escola em caso de sinais negativos.
É verdade que a situação é tensa. Alimentar o pânico não é, no entanto, solução. Pais, professores e estudantes, devem se unir no sentido de estabelecer na escola o sentido de pertencimento e aclaramento dos objetivos da existência da escola, que é o processo de ensino, aprendizagem e transmissão dos conhecimentos científicos sistematizados, bem com a formação de valores e visões de mundo.
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