Sandra, o Entregador, e a Ideologia do Trabalho Escravo.

 



Escreve recentemente neste blog ( texto) sobre a ideologia do trabalho escravo. Basicamente, esta ideologia se fundamenta na ideia de que os pobres, moradores de periferia e negros não possuem direitos iguais. Esta semana, ao menos dois acontecimentos ilustram esta realidade. O mais assombroso é o da mulher, ex atleta, que resolveu chicotear um entregador por que não gostou do fato de ele passar muito perto dela de bicicleta. O segundo fato, foi um episódio de racismo em um supermercado do Carrefour.

Observemos o caso da Sandra. Sandra, mulher branca, moradora da área nobre da cidade não se conforma de ter que cruzar com entregadores na calçada. Ela sabe que eles estão ali trabalhando, e, sequer estão por vontade própria, eles escolheram trabalhar, ganhar o dinheiro e o sustento do pão de cada dia com o suor do trabalho, aliás, trabalho duro e precarizado pelo mercado, o trabalho de entregador. Sandra não se conforma. Para ela, eles causam incomodo, torna feia a calçada, ocupa o espaço que ela julga não terem o direito de ocupar.

Questionada, Sandra se justifica dizendo que nada acontecerá com ela. Ela, segundo ela mesma, e que em nota o Governador Cláudio Castro negou, é parente do Governador. É também parente de Delegado. Aqui, sabemos do que se trata. É o infame “Você sabe com quem você está falando?”. Outro dia um deputado de Minas Gerais disse no plenário da Câmara dos Deputados que no Brasil não existe justiça, e sim relacionamento Jurídico. Ele estava repetindo o discurso de Sandra perante os entregadores, expandindo a ideia de que se você e parente, amigo de poderosos ou tem dinheiro e poder, nada lhe acontece. A ideologia do trabalho escravo se funda nisso. Existe uma casta superior na sociedade, intocável, que precisa ser servida em seus desejos, suas vontades, e que quando não se sente bem servida pega o chicote e bate, ainda que de formas diversas.

No carrefour, mulher é seguida por segurança e resolve tirar a roupa para demonstrar que não tem risco de roubar nada. Qual negro nunca foi seguido por um segurança em um supermercado ou shopping? Aliás, o Carrefour tem histórias para contar. Ainda não saiu de nossa mente as imagens do homem sendo morto por seguranças. Estudos mostram que todos os dias acontecem episódios de racismos em supermercados, shopping, lojas e restaurantes. É que não é considerado normal negros possuírem dinheiro para consumir determinados produtos.

Se quisermos construir uma cultura de paz precisamos combater todas as formas de ideias que tornam as pessoas separadas e julgadas pela cor, pela origem, pela classe social, etc. Sandra sente superior mas na verdade, Sandra não compreendeu o que significa ser um ser humano. Não entendeu a essência da vida, da humanidade, da existência humana na terra. Ela representa a escola do ódio, da violência, da discriminação e todas as formas destrutivas e tóxicas das relações humanas. Infelizmente Sandra não está sozinha. Ela está representada no Congresso Nacional, onde deputados parecem urubus brigando pela carne podre da vida.

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